A Telha (2ª Parte)

Pois é, se não estivesse tão tiririca da vida, até que teria dado boas risadas pelo fato de querer comprar telha para repor com uma foto. 
Isso se chama não entender mesmo de telhas e o que é pior, alem de não entender o marido tambem não entendia de bulhufas nenhuma! 
Me deu uma raiva! 
Que eu saiba, marido é quem entende de telha. Pelo menos na casa do meu pai ele entendia de tudo. 
Mas voltemos aos fatos, porque estava com muita pressa com medo da chuva.
E foi bem assim que aconteceu. 
Um calor terrível com sensação térmica de 50°, transito intenso, o povo todo meio doido de tanto calor e eu correndo atrás de uma telha chamada de telha paulista, volto em casa e alguém tem que subir no telhado pra pegar a tal de telha. O pedreiro está viajando com destino a minha casa, logo logo ele chega e eu preciso está com as telhas. 
Estou parecendo uma doida e meia, não tiro o olho do ceu pra ver se vai chover ou não, que agonia!
E voltando ao deposito e para minha surpresa, lá não tem a bendita telha. Até que tinha uma bem parecida que custava R$ 1,29. 
Exclamei aos quatro cantos da loja. Meu Deus que telha barata, pois é dessa mesma que vou comprar e não quero nem saber! Mas fui informada que não daria certo. 
Não desmaiei porque precisava ficar de pé. Mas o vendedor me indicou o deposito onde eu encontraria essa raridade e lá vamos nós com aquela preciosidade fedorenta a pó embrulhada a sete chaves primeiro em um jornal, depois em um pano, depois em um saco, depois na sacola.
E lá vamos nós, rumo ao endereço informado. Nunca vi tanta telha, só não existia mesmo as irmãs da raridade. Mas o vendedor foi bem otimista: “calma que nem tudo está perdido” e nos deu outro endereço onde encontraríamos aquela que estava me dando tanta dor de cabeça e lá chegando também não tinha. 
Até que tinha, disse ele, mas acabou e assim mesmo eram poucas. E lá vamos nós de novo rumo ao novo endereço que nos foi fornecido e nada.
Entrei em desespero, teria que trocar toda a telha da casa. Que absurdo, a chuva vai chegar e eu não resolvo esse problema.
Depois de rodar SP inteiro apareceu uma alma bendita que nos informou que seria fácil encontrar no museu das telhas. 
Essa é para aprender que lidar com telha e telhado exige conhecimento. Vá mandar um faz-tudo subir em cima da sua casa e verá o tamanho do problema que vai arrumar pra sua cabeça, porque a primeira coisa que ele vai fazer é pisar onde não deve e quebrar as benditas que protegem você e sua família do aguaceiro. Chegando ao museu que não é pequeno encontramos a raridade, mas tinha também mais um detalhe, precisava trazer a outra parte da telha senão não daria certo. Levamos somente a capa e faltava a tal da bica. 
Meu marido sofreu nesse dia, era pra tirar a telha completa e lá vou eu de deposito em deposito e somente com uma capa de telha.
Meu Deus, essa foi demais! Teriamos que voltar para pegar a bica da telha ou a telha de nome bica.
Que situação hem? Rodei quase a cidade de SP inteira por causa de uma telha para aprender uma grande lição.
Por fim, resolvemos o problema. Agora sei que existe o museu das telhas onde se encontram verdadeiras relíquias. 
Descobri também telhas de mais de 200 anos e fabricadas pelos escravos. Muito me chamou atenção esse fato porque naquela época não existiam fôrmas para se fazer a telha. Elas eram fabricadas uma a uma e moldadas na coxa. Valeu todo o meu sacrifício, a minha mente embaralhada pelos acontecimentos dos últimos dias simplesmente viajou no tempo. Imaginei quantas cenas aquelas telhas presenciaram e na sua composição quanto suor daqueles que as confeccionaram.

Bom o meu drama de nome rio dagua proveniente de uma goteira mal cuidada graças a Deus chegou ao fim, o pedreiro consertou tudo, fez a reposição das telhas como manda o figurino e eu parei de olhar para o ceu procurando nuvens carregadas de chuvas. Agora chove e eu estou feliz da vida. 
Emedelu
Enviado por Emedelu em 16/02/2014
Código do texto: T4694151
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