A MÃE QUE FALAVA PALAVRÕES PERTO DA FILHINHA
Aquela dona da casa vivia revoltada com o marido: volta e meia ele a mandava convidar os familiares dele para almoçar: mãe, pai, irmãos, sobrinhos... E vinham como um bando de lobos. Após o almoço, e comerem como uma alcatéia, eles iam embora deixando uma montanha de pratos, panelas, copos e talheres para lavar. Ela ia para a pia e ficava horas e horas lavando, secando e guardando tudo. Desfiava um rosário de xingamentos, imprecações, amaldiçoava os parentes do marido, tudo isso na presença da filha de cinco ou seis anos.
Certo domingo convidou a pedido do marido a turma para o almoço. Eles não se fizeram de rogados, compareceram em peso, levando apenas o apetite. Ao por a comida na mesa, a qual todos esperavam fazendo cruzes na boca, ela teve a idéia de pedir a sua filhinha para fazer uma oração, para mostrar o quanto a menina era sabida. A menina se recusou, dizendo que ainda não sabia rezar direito. A mãe disse:
-Não precisa ser bem uma oração, filhinha, fale algo para os avós e os titios.
-Falar o que, mamãe...
-Sei lá, filhinha, fale o que a mamãe sempre fala quando eles vêm almoçar aqui em casa...
A menina então disse bem alto:
-Puta que pariu! Não sei onde eu estava com a cabeça ao deixar o palhaço do meu marido convidar essa corja de vagabundos para almoçarem aqui...
* * *