DOIS MOLEQUES NO PRONTO ATENDIMENTO
O dia no pronto atendimento daquela pequena cidade mineira estava tranqüilo: apenas um curativo na perna de um cidadão que fora mordido por um cachorro, uma lavagem estomacal em uma mocinha que havia tentado se suicidar ingerindo comprimidos de Gardenal... O enfermeiro foi à sala de espera para ver se havia alguém e deparou-se com dois meninos de nove ou dez anos sentados. Perguntou o que eles queriam. Um deles respondeu:
-Eu engoli duas bolinhas de gude...
O enfermeiro imediatamente conduziu o menino à sala do médico de plantão. O outro acompanhou os dois. O médico examinou o menino, viu que ele estava bem e disse ao enfermeiro:
-Encaminhe-o ao setor de raios-X e mande tirar uma radiografia para vermos onde as bolinhas estão e o tamanho delas, para ver se Deus ajuda que ele consiga expeli-las naturalmente.
O enfermeiro saiu pelos corredores conduzindo o menino, o outro também os seguia. Ao chegar à sala de raios-X, encaminhou o menino ao técnico. O outro também foi entrando sendo impedido pelo enfermeiro:
-Você não pode entrar aí. Espere aqui fora.
Após tirarem a radiografia, esta foi encaminhada ao médico, que ao estudá-la disse:
-Felizmente são duas bolas pequenas, sairão naturalmente, dê a ele um purgante daqueles “brabos” e deixe-o em observação.
O enfermeiro foi levando o garoto para a enfermaria e só aí notou que aonde eles iam o outro moleque ia atrás. Perguntou:
-Afinal de contas o que é você tem?
-Não tenho nada, estou só acompanhando ele...
-Ele não precisa de acompanhamento, está bem, pode ir embora e avise aos pais dele, mas não vá assustá-los...
-Não, eu não vou sair daqui...
-Já te disse, ele está bem, vou dar-lhe um purgante e logo, logo ele vai botar as bolinhas para fora.
-Não, eu quero ficar com ele.
O enfermeiro estava admirado com a solidariedade do moleque, perguntou:
-Ficar com ele para quê?
-Para recuperar minhas bolinhas, as bolinhas que esse “avestruz” engoliu são minhas...
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