CONSERTANDO O TELHADO

CONSERTANDO O TELHADO...

O Sr. Aquino dos Santos era um dos maiores fazendeiros da Comarca de Piranga. Na sua fazenda moravam mais de trinta famílias, que ali trabalhavam. Cada família possuía a sua casinha de pau a pique coberta de sapé, água na bica e um bom quintal. Na fazenda, além do Cel. Aquino e sua esposa Dona Ritinha, moravam os seus dez filhos (cinco meninos e cinco meninas) e mais três moças auxiliares, que eles chamavam de empregadas.

Para a educação dos filhos, o Sr.Aquino contratava as melhores professoras da região que lecionavam para os filhos na faixa dos sete aos doze anos. O que era chamado “educação” nada mais era do que aprender a ler, escrever e fazer as quatro operações. Após os doze anos, os meninos já começavam a enfrentar os serviços da fazenda: candear bois; tirar leite das vacas; tratar dos porcos; plantar milho, arroz, feijão, cana, etc. As meninas aprendiam a cozinhar, costurar, bordar, fazer quitandas e outras prendas domésticas.

Naquele ano da década de vinte, uma das professoras conversou com o Coronel sobre o seu filho Francisco que estava se revelando muito inteligente. Disse-lhe que o menino merecia estudar em um bom Colégio.

Depois de conversar com sua esposa Ritinha e convencer o seu filho a estudar, procuraram o melhor Colégio da região que, naquele tempo, era o Dom Helvécio, em Ponte Nova.

O desempenho do menino no curso ginasial foi tão bom que os professores de Ponte Nova aconselharam o Coronel Aquino a matricular seu filho em um grande colégio, para que ele fizesse o curso Científico e, daí, partir para uma brilhante carreira de nível superior. Foi o que o Coronel fez. Matriculou o Francisco no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. No Rio, com a ajuda de um influente conterrâneo, conseguiu uma boa pensão onde o Francisco foi morar. Após três anos no Pedro II, Francisco conseguiu entrar para a Escola Nacional de Medicina. Prosseguindo na sua escalada de sucessos, Francisco fez um brilhante curso. Na sua formatura, os seus pais e alguns parentes mais próximos foram ao Rio. Para o Coronel e esposa tudo parecia um sonho. Conhecer o Rio e hospedar-se no hotel Copacabana Palace era qualquer coisa de fenomenal. As solenidades de formatura com a Missa no Convento dos Monges Beneditinos ficariam, para sempre, gravadas em sua memória. No baile do Cassino da Urca eles não foram, pois o Padre da Paróquia a que pertenciam, se soubesse, não iria perdoá-los. Na entrega do diploma, no Salão Nobre da Escola, os pais do novo médico se emocionaram.

No dia seguinte, os familiares retornaram para Minas e o Dr. Francisco foi fazer um estágio em um dos hospitais do Rio. Depois de um ano, o Dr. Francisco montou o seu consultório e a sua fama de bom médico espalhou-se pelo Rio de Janeiro. Tinha até propaganda na Rádio Nacional que, naquela época, era a mais ouvida no Brasil, equivalente a uma propaganda, hoje, na Rede Globo.

Três anos depois, o Dr. Francisco começou a namorar uma moça de família tradicional do Rio e logo ficaram noivos. Como a noiva queria conhecer os pais e os parentes do noivo, programaram uma viagem para aquela vilazinha de Minas.

Tão logo chegou a notícia, a fazenda tornou-se um canteiro de obras: nova pintura, troca do forro, conserto das mesas, cadeiras e camas, pinicos novos, bacia e jarro para os quartos dos noivos que, como ainda não eram casados, tiveram que ficar em quartos separados, como já havia determinado a mãe do noivo. Colchões, travesseiros, cobertores e toalhas, todos novos.

Capado gordo, frangos e galinhas caipiras, leite, boa horta, tudo isto existia com fartura na fazenda. Naquele tempo, pouco se dizia da carne de boi que sempre era vendida “para fora”.

Os noivos sairiam do Rio, pela manhã, no trem da Leopoldina, a famosa Maria Fumaça. Deveriam chegar a Viçosa, já à noite. O Coronel já havia reservado o melhor hotel de Viçosa para eles passarem a noite. De manhã, seguiriam para a fazenda em um Ford 29, novinho, também já contratado pelo Coronel.

Como o médico e a noiva chegariam para o almoço, o Cel. Aquino convidou alguns familiares e algumas pessoas influentes do distrito, tais como: o Padre, o farmacêutico, alguns compadres e um vereador.

No dia da chegada, todos estavam na fazenda aguardando o doutor e a noiva. É lógico que o Dr. Francisco explicou para a noiva todos os detalhes da vida na roça, do pessoal, da falta de recursos da região.

O Dr. Francisco tinha um irmão que era muito simples. Solteirão, desinibido, gostava muito de brincar com as pessoas. Chamava-se Vitalino.

Às dez horas, o carro já se aproximava do terreiro sendo saudado com alguns foguetes.

Após os cumprimentos, durante os quais o Dr.Francisco ia fazendo a apresentação dos presentes à sua noiva, ao se aproximarem do Vitalino, este disse para ela: -“Eta traseiro bom para umas palmadas!" Todos ficaram “desapontados” como se dizia antigamente. Quando os convidados foram para a sala de visitas saborearem o bom vinho português " Adriano Ramos Pinto”, da reserva do coronel, o Dr. Francisco e a noiva foram tomar banho, pois havia muita poeira na estrada de Viçosa. Para o banho da carioca, a Dona Ritinha, preparou uma bacia nova com água bem quentinha.

Na sala, a conversa já estava muito animada, após várias rodadas do bom vinho. De repente, ouviu-se um grande barulho e um grito de mulher. O grito vinha do quarto da noiva. Daí a pouco, ela abre a porta do quarto toda enrolada numa toalha . No chão do quarto estava esticado o Vitalino, contorcendo-se em dores. Passados os primeiros momentos do pânico geral, foram verificar o ocorrido. O Vitalino, querendo ver a cunhada tomar banho, subiu até o forro do teto do quarto e ficou entre este e o telhado, procurando uma greta para a sua observação. Acontece que ele escorregou, o forro que era de taquara rompeu-se e o nosso amigo foi cair quase em cima da bacia em que a cunhada estava tomando banho. Depois de socorrido pelo seu irmão médico, o Vitalino todo encabulado disse: -Eu fui consertar o telhado, escorreguei e caí...

A partir daí, não sei o que aconteceu, pois a pessoa que me contou tal fato, o fez só até este ponto. Que cada um imagine o que possa ter acontecido...

Obs.: Fato verídico, nomes fictícios.

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Murilo Vidigal Carneiro

Calambau , janeiro/2014

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 10/03/2014
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