A TURMA DO TIME DE VÁRZEA VIAJANDO DE ÔNIBUS

Quando eu jogava no “Cerrado Esporte Clube”, viajávamos em carroçarias de caminhões, enfrentando vento, chuva, poeira... E ainda tínhamos que pagar passagem. Além de pagar passagens, pagávamos também lavações do uniforme.

Fico pensando nas mordomias de jogadores de futebol profissionais, viagens de jato, hotéis cinco estrelas...

Certa vez, nosso treinador, que acumulava os cargos de diretor e presidente, combinou um jogo com um time de Divinópolis. Foi arranjar um caminhão para fazer o transporte. Reclamei com ele, dizendo para fretar um ônibus. Seria muito bonito, um time de futebol chegar em uma cidade grande como Divinópolis em carroçaria de caminhão. Os adversários iam dizer: "Olha o time dos paus de arara".

Ele alegou que ônibus ficaria muito caro. Fizemos uma reunião e todos os atletas concordaram em pagar mais caro para fazermos a viagem de ônibus.

Conseguimos fretar um ônibus velho, mas para todos acostumados ao desconforto de caminhão, era um luxo. Grande parte da estrada era de terra, a poeira entrava pelos buracos da lataria e das janelas que não fechavam direito. Levei um livro de física para estudar no caminho, Segunda-Feira, era dia de prova, da matéria a qual eu abominava, nunca consegui aprender a maldita.

Eu ia sentado no meio do veiculo bem em cima da roda, de vez em quando era atirado para cima, quase batendo a cabeça no porta embrulhos. Bem na frente havia um dos rapazes tentando resolver palavras cruzadas. Uma vez ele me perguntou:

-Carnaval temporão, com oito letras.

-Micareta.

-Festa de Reis?

Com quantas letras?

-Oito!

-Epifania.

Ele e fez várias perguntas não me deixando concentrar em meus estudos, eu já estava um pouco irritado, já ia dizer:

-Me dá essa merda, deixa eu resolver para você.

Ele me perguntou mais uma vez:

-Antropófago com sete letras?

-Canibal.

Aí ou acabou o problema ou ele desistiu, me deixando em paz.

0 Rapaz que estava ao meu lado que era do norte de Minas, perguntou:

-Que é isso antropófago ou canibal?

Eu já impaciente com tantas interrupções, respondi:

-Ah, é homem que come homem.

O rapaz rindo disse:

-Engraçado lá pelas minhas bandas, homem que come homem, ou é “bofe” ou é “fanchona”...

* * *