REBENTA PIPOCA...

Certa noite fria, ao ver minha filha levar um pacote de milho de pipoca ao forno microondas, espantei-me ao ver a rapidez que o saco de papel inflava e dos estouros ribombantes que vinham do aparelho. Minutos depois estava servida uma pipoca deliciosa onde o milho era quase cem por cento, estourado. Curioso, fui ver as embalagens do produto: havia pipoca sabor manteiga, presunto, baunilha e ...blerg! Até chocolate.

Fiquei me lembrando de minha paupérrima, porém feliz infância: Se a gente quisesse comer pipoca havia uma série de formalidades a seguir: O milho era comprado em atilhos- para quem não sabe- um atilho, são quatro espigas amarradas uma á outra. Depois colocávamos as espigas em um jirau de arame em cima das fornalhas, (fogões de lenha) para secar. E aí o milho era debulhado, colocado em peneiras ao sol para acabar de secar. Só aí era colocado em panelas ou caçarolas de ferro, besuntadas com gordura de porco. Colocava-se sal a gosto tampava-se a panela, e quando aparecia os primeiros estouros, a gente fazia uma simpatia para haver maior rendimento: batia na tampa da panela com a longa colher e falava as palavras cabalísticas:

-Rebenta pipoca, Maria Pororoca, rebenta pipoca, Maria Pororoca...

Minha mãe de vez em quando dava uma sacudida ou chacoalhada na panela para o milho estourar por igual. Depois despejava as pipocas em uma peneira e a meninada como uma alcateia, avançava naquela delícia fumegante. Ela recolhia a peneira e dizia:

-Enquanto não tomarem modo, nada de pipoca. Para apaziguar os ânimos dividia as pipocas em canecas e distribuía para os glutões. Logo, logo começava as brigas:

-A minha caneca tem menos do que a da fulana...

-A minha caneca só tem piruá...

Não sei se quando criança, a gente tinha um paladar mais apurado, ou se as coisas de hoje perderam o sabor, porque antes tudo era mais gostoso...

Tempinho bom...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 07/04/2014
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