CINDERELA 2014

Era uma vez uma pobre menina órfã, como milhões de outras, mas, essa tinha algo especial: Chamava-se Cinderela; quando a família não tem muitas posses, capricha no nome pra ver se a pessoa dá certo na vida, mas, não foi o que aconteceu; imagine que em Portugal a chamam de Gata Borralheira; gata vai lá, até que é elogio, mas por que Borralheira? Ah, sim , que gosta de ficar junto à cozinha...

Foi criada de favor por uma tia horrorosa e viúva que tinha também umas filhas horrorosas, mas nada que um pouco de grana e de plástica não resolvessem. Moravam naquele suburbão perdido nos confins da cidade e, cabia à Cindy, como era chamada para facilitar a comunicação, o serviço pesado, ou seja, lavar, passar, cozinhar e limpar a casa da velha ,em troca de um prato de comida, enquanto sua filhinhas levavam a vida.

Nada disso seria diferente da vida de milhões, se a Cindy não tivesse umas ideias doidas na cabeça; quer dizer, tinha o “complexo de Cinderela”, ou seja, sonhava com seu príncipe encantado; até que era jeitosa, mas dali a algum magnata se interessar por ela, sem gato pra puxar pelo rabo, vai distância grande; o “príncipe” em questão era o Geriscleison Da Silva, porteiro do prédio vizinho e muambeiro nas horas vagas; Geri sempre assoviava quando a via voltando da padaria; sabe como é; quem está na pior esnoba quem está pior ainda, e, continuava a sonhar com o príncipe encantado.

Até que um dia:

-Vai ter um baile no castelo encantado e o príncipe escolherá uma esposa! Oba, vamos lá- eram as filhas horrorosas a falar.

-E eu posso ir?-Cinderela ingenuamente achava que poderia ser concorrente.

-Lógico que não - rebatia a madrasta-você não tem carteira de trabalho assinada; já pensou se descobrem que não recolho INSS?

Cindy recolheu-se e foi se queixar com seu único amigo, um rato cinzento de esgoto chamado Sebastião, que lhe lembrou:

-Você não tem aquela fada-madrinha?

É mesmo; tinha uma madrinha, nem era fada, era só uma velha madrinha; foi falar com ela que lhe arrumou um vestido meio roído de traças e cheirando naftalina; comprou um sapato a prestação na lojinha da esquina; mesmo sem muito luxo, até que elae era simpática ... e, toca para o baile...

Chegando lá, dançou com uns e outros, mas queria a atenção do príncipe, que, logo a notou, pois chamava a atenção; dançaram, mas, chegou a meia-noite e ela precisava ir, pois o último busão saía àquela hora, senão ficaria na rua; correu, não sem antes largar um de seus escarpes na escada.

No dia seguinte, lá estava o príncipe a procurar a dona daquele sapatinho; experimentou nos pezões das filhas horrorosas , lógico que não serviu, então, colocou-o no pé de Ciderela; serviu!Eis que o príncipe se levanta e , gesticulando, vocifera:

-Mas como tem coragem de ir à minha festa com um sapato horroroso, da 25 de março, em minha festa? Totalmente sem classe; um horror!-quase que o príncipe teve um chilique; agora , ela é que não o queria; que ficasse para as filhas horrendas da madrasta.

Mas eis que se ouve uma buzina: Era Gerisgleison, no seu possante Fuscão azul, todo tunado; ele tinha estudado à noite e já era chefe de portaria , mas também fazia faculdade; Cindy saltou para dentro da viatura e foram dar umas bandas. Com o tempo, deixou de sonhar com príncipes e de se lamentar; estudou , se formou, casou-se com o Geri e deu um bico na madrasta e nas filhas sem graça.