"Siúmes doentio"

[ professora estressada corrigindo provas em sua mesa. Coloca sua

mão direita sobre a cabeça. Possui feição preocupada, mas ao mesmo

tempo indignada. Abaixa seu óculos para observar a sala de aula.

Alunos trabalhando -nem todos- alguns escutando MP3, outros

dormindo, e tantos outros fingindo estarem alí- Continua a rubríca:

Levanta-se, tira seu óculos , está com uma folha na mão e uma

caneta vermelha também. Parece preocupada, caminha pela sala

pensativa, retorna para sua mesa, senta-se e logo em seguida chama

Philodermo ]

" Philodermo! Por favor, venha até minha mesa, gostaria de comentar

alguns itens sobre o seu texto. "

"Tem certeza que é o Philodermo que a senhora chamou? Não seria o

número 34?

[Disse Philodermo, debochando da professora, que ainda insistia em

chamá-lo pelo nome - há alunos que se rotulam, parecem carros ao

adentrarem em uma oficina autorizada: 33 vermelho, revisão de freios -

26 laranja, substituir coxim do câmbio - ]

[ A professora começa a comentar o texto produzido por Philodermo. A

redação tinha como tema um poema de Bocage: Fílis e Amor, logo a

temática giraria em torno da palavra Amor - oras, falar de Amor na

adolescência é dar pano para manga ]

"Philo, querido. Vejo que você é um jovem extremamente cíumento. É

preciso que controle seu ciúmes!"

[No momento em que a professora comentou sobre Ciúmes, ela deixou

claro o tom. Exaltando: C - I - Ú - M - E S , e neste momento

Philodermo reage:]

"Qualé Psora! Tá mi tirando, num gosto de mina chulé. Philo é de

todas. Se bobear tem até pra senhora - com todo respeito-"

[ A professora quase teve um surto, mas seguiu adiante ]

"Não querido, eu estou dizendo que o seu ciúmes é extremamente

sinuoso, parece que ele sobe com uma intensidade e retorna da

mesma forma, isso é preocupante. Futuramente você pode até sofrer

por conta disso...."

[ Philodermo não deixou a professora concluir, interrompeu-a - como

de costume - ]

"Mano, a senhora tá brisando... eu naum sou siumento!"

[ Com a caneta vermelha quase perfurando o papel, a fervorosa

devota de Nossa Senhora da Reprovação, circundou a Letra S por

várias vezes e ao fazê-lo dizia: ]

"Não é isso. Perceba: Seu Siúmes é Sinuoso demaiS!"

[ Philodermo não percebe que a professora aponta-lhe um erro crasso

de ortografia, que nunca poderia ocorrer com um aluno da 3ª série do

Ensino Médio ]

"Pô, qualé. A senhora virou psicológica?"

[ Irritada, mas aparentemente calma - uma dualidade comum em todo

professor - a humilde serva da progressão continuada tenta mais uma

vez explicar ao jovem o seu erro: ]

"Philodermo, anjo de luz, flor de maracujá..."

[Estranhando o tratamento, Philodermo retruca: ]

"Epa, sou boiola não, sou espada psora!"

[a professora, muito calma -quase jogando seu óculos no chão -

continua ]

"Filho, Cuide para que seu Ciúmes seja assim: Circular... Circundante...

Contido... Comedido... Controlado... entendeu? Tudo Certinho?"

[ Os colegas da sala assistiam inertes as reações de Philodermo diante

dos comentários da professora, que de uma forma poética, tentou

apontar o erro medonho. Somente Philodermo não havia "sacado"

a "parada". Enquanto isso, Apolo, lá do fundão, gritou: ]

"Ow, Philos, chega ae! Tú é burro memo heim mano!!! Pô cara, ciúmez

é com C e não com S. Só que ..se liga ae, não esqueça de colocar o Z

no final.... Ciúmezzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz "