"FERRUGEM", O REI DOS DEFUNTOS.
Conhecido pela policia de Sergipe, “Ferrugem” se especializou em roubar defunto e seus cemitérios preferidos eram o “São Benedito” e o Santa Isabel, localizados no centro da c idade de Aracaju. Questionado sobre suas preferências, ele gabava.
-São de pessoas ricas. Defunto rico tem a boca de ouro.
O larápio sentia o cheiro de morto longe. No velório, o gatuno tomava informações sobre o cadáver. Ali ele sabia se o defunto tinha dente de ouro ou se levava alguns objetos de estimação. O vivaldino tinha xodós por diversas peças do morto.
-Gosto de gravatas, sapatos importados e por dente de ouro.
O malandro era esquematizado e tinha em sua agenda os horários dos vigias. Sabia dos porteiros dorminhocos e dos eficientes. Em sua agenda também constava os horários das rondas policiais. Quando cismava de um vigia, vestia seu manto diabólico (uma vestimenta vermelha e preta) e ficava dentro do cemitério urrando até colocar o pobre vigilante para correr e até desistir da profissão.
-Vigia tem que se ferrar. Salientava o “Rei dos Defuntos”.
Dizem os moradores que “Ferrugem” não gostava de penetrar no Cemitério Santa Isabel pela Rua Dom Quirino, e sim pelos fundos onde eram infestados de bregas.
-Existem moradores demais na Rua Dom Quirino. Eu gosto é dos fundos. Lá tem diversos cabarés e a iluminação é fraca. Também não gosto da Praça Santa Isabel (logradouro que fica em frente ao cemitério). Lá o prefeito cismou com os roubos e mandou clarear o espaço.
O larápio também tinha um faro afiado para conhecer caixões doados pelos políticos.
- Caixão doado pelo político é como pé de mandacaru não dá sombra nem encosto. O pobre vai tão apertado que não leva nada de estimação para o Céu. Filosofava o manhoso.
Naquele tempo não existia o plano funeral. Pobre tinha que ser enterrado por “políticos bondosos”, pela prefeitura, ou até mesmo numa rede de dormir que servia de ataúde.
Ferrugem se achava o sábio, mas como não existe crime perfeito, o larápio caia nas garras dos policiais quando completamente embriagado e também apaixonado, comentava suas façanhas funerárias, com algumas mulheres dos cabarés que ficavam nos fundos dos cemitérios Santa Isabel e o São Benedito, seus dois preferidos.