= A Viagem da Lazinha =

Estou um tanto triste, de coração partido

A Lazinha viajou, jurou que não foi embora

De férias, vai passar todo um mês fora

Pudesse, eu tinha feito minhas malas e também ido

Não é fácil ter que ficar longe de uma vizinha

Tão maravilhosa, prestimosa e boa assim

Ainda bem que deixou um belo estoque

De quitutes, lasanhas, coxinhas, quindins,

tortas doces e salgadas, pudins e afins

Levá-la até a Rodoviária deleguei a mim

Lá ela toda toda chorosa embarcou

Lencinho branco acenando

Num buzão dois andares da Itapemirim

Não sei quantos dias de estrada e ela sentada

Vai chegar lá com a bunda quadrada, a coitada

(Pausa para refletirmos. Você pode me perguntar:

- Mas ela não podia ter ido de avião? E eu te respondo:

- Poder, poderia. Mas não foi. Talvez por medo. Sei lá.

Até sugeri isso a ela, me prontifiquei a pagar a passagem

e tudo, como agradecimento ao tanto que ela faz pra e

por mim, mas não. Disse que tudo por mim ela faz

de coração. Que nunca vai cobrar sequer um quindão.

Disse-lhe: - Está bom, então.

Não quis aprofundar mais na questão.

Mesmo por que é difícil, missão

impossível entender as mulheres, esses seres

esquisitos, complicados, estranhos, cheios de

manias, desejos e vontades que tiram nem se

sabe de onde, que só fazem confundir e sofrer

a nós homens, esses pobres seres, tão indefesos e

frágeis. Fim da pausa para reflexão.)

Disse - me que com o economizado na passagem

Ela vai levar tudo em presentes e lembrancinhas

Para seus parentes, quase a metade da população

De Quixadá e Quixeramobim

Por uma listinha que ela fez, só de primos

Tem pra mais de dez mil

Só de Severinos, Raimundos, Franciscos e Joaquins

Por cá fiquei com a missão de cuidar da Luzia

A Luzinha, irmã amada da Lazinha, e minha

Uma fofa, só vinte e três aninhos, a criança

Não sem muita promessa e recomendação

De não ir atrás da horta colher ervilha torta

Garanti pra Lazinha tomar conta da sua maninha

Viaje tranquila, eu disse. Tomarei bem conta.

Comigo de olho ela não apronta e se comporta

A levarei e buscarei na faculdade, sem dificuldade

Fora disso nem morta irá além da porta

À noite bate uma saudade da irmã na Luzia

Fico com o maior dó da pobrezinha

Cuido com o maior desvelo dela

Dou carinho, colinho, canto nana naninha

Dou leite quentinho e levo pra caminha

Onde ela dorme feito um anjo

Pra cima cas bundinha a noite inteirinha

Pra não ficar preocupado caso ela acorde

Luzinha tem medo de ficar no escuro sozinha

Isso, pra Lazinha foi por mim, prometido e jurado

Solícito e solidário, durmo do lado.

Concorda comigo?

Não é pra isso que serve um amigo?

= Roberto Coradini { bp } =

16//07//2015