DEUS DE NOVO

                                        FATO CURIOSO

Sei que vai ser difícil vocês acreditarem, mas é verdade. Ontem à tarde, Deus, em carne e osso, tocou o meu interfone. Veio me visitar, assim sem a menor cerimônia ou protocolo.
Branco de pele avermelhada, olhos claros, tipo alemão, terno cinza, muito bem talhado, sapatos pretos (novos) de boa qualidade (nada de tênis), cabelos grisalhos, penteados para trás, bem barbeado, de estatura não muito alta e troncudo, não usava aqueles brinquinhos e me pareceu não ter tatuagens, aparentando uns 60 e tantos anos - sem dúvida um tipo muito simpático e, surpreendentemente, risonho e bem humorado. Na realidade muito diferente da ideía de Deus que a igreja procura nos passar - um ser sizudo e truculento, cheio de normas e mandamentos e que se comunica com a gente através de trovoadas e clarões.
Desculpou-se por ter vindo sem avisar, me abençoou em Seu próprio nome, aceitou um café com adoçante - parece que Ele está ás voltas com o controle do açúcar.... e me contou duas piadas das boas, dizendo que eu podia usá-las nos meus escritos, sem problemas. Aproveitei o ensejo e mostrei-Lhe os alguns textos de humor meus que abordam Ele de alguma forma. Após uma leitura detalhada Ele sorriu, me chamou de zombeteiro e sugeriu algumas alterações - fiquei de pensar a respeito.
Nada perguntei sobre questões mais profundas, dado Ele ter dito que estava apenas a passeio. A conversa girou em torno de amenidades. O campeonato nacional de futebol - como está disputado,  a prisão do Vaccari... que coisa, a roubalheia do PT....  a possibilidade de prisão do Lula... os discursos da Dilma - essa ele falou sem conter o riso de ironia.....
Ele disse que estava muito satisfeito pelo fato do movimento ecológico não ter ainda subido aos céus - o paraíso está um brinco, um verdadeiro paraíso. Pediu-me para ensinar a harmonia da música "Wave" e aprendeu rapidinho. Tocamos violão e cantamos em duas vozes (Sua afinação me impressionou, além do fato de Ele falar fluentemente o português sem o menor sotaque).
A visita durou cerca de duas horas. Levei-Lhe até a porta, despedimo-nos com um sincero aperto de mãos. Ele prometeu voltar um dia, com mais tempo trazendo umas lembrancinhas originais - garrafinhas de água benta geladinha e hóstias diet - e partiu a pé (sem segurança escoltando.... ), com aquele Seu jeitão simples, pesar de Todo Poderoso. Acho que fiz uma nova amizade. Gostei do papo, sinceramente.


(texto lançado em 1992 e atualizado hoje  pela segunda vez)


 
Karpot
Enviado por Karpot em 02/08/2015
Reeditado em 03/08/2015
Código do texto: T5332552
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