“Ô Nego!”

Adauto era um bom garoto, acanhado que só ele, todos o chamam de Dautinho, menos sua irmã que só fala: “Ô Nego!”. Ah e tem o seu pai também que só o chama no couro, Dautinho toca miudinho na mão do monarca, o cara é tão brabo que não precisa nem bater.

Dautinho é um menino muito obediente, tanto que seu cavalo Trovão está até obeso, tamanha obediência de quem o alimenta. Eu explico: é que seu pai manda dez vezes o garoto alimentar o cavalo, por tanto, o pobre coitado come dez vezes.

“Ô Nego!” (lembra? É assim que a maninha o chama.), tem um prazer mórbido com o que tem asa, é só ouvir falar de uma comemoraçãozinha, pode ser até ser comemoração por vencer campeonato de cuspe a distância sem saliva, que o danado pega logo na peixeira e dana a cortar pescoços galináceos por aí. Dizem até que o Fuga das Galinhas foi baseado nele. Quero é só ver quando elas se revoltarem de verdade contra ele e pararem de atravessar a rua, se isso acontecer ele será responsável por estragar centenas de piadas mundo a fora.

Agora ele está diversificando seu plantel, é o sadismo dominando de novo, no seu sítio temos até perus, isso mesmo perus, esse bicho sempre traído pelo álcool, -senhores perus, nunca aceitem convite para tomar uma cachacinha- é morte certa.

Essa história de peru pode até vir a ser utilizado ao seu favor caso haja uma revolta contra o massacre dos galos (Nota do Escritor: Pode até se cruel, mas que ficam deliciosos ah! Isso ficam!), isso livra a sua cara facilmente em relação as piadas, o peru pode até não saber atravessar a rua como uma galinha, mas dá uma piada de mão cheia também.

Nessa parte eu fiquei parado por uns eternos vinte e três segundos pensando sobre a conveniência de contar ou não uma piada de peru, como não cheguei a uma conclusão, melhor então contar logo, alerto aos leitores de coração fraco, pois essa piada é de uma pandega só!

Um caminhoneiro passando por uma estrada para e dá carona a um rapaz, o rapaz senta na boleia e começa a fazer perguntas, -por que você ligou a seta para lá, por que ligou para cá, por que você jogou água no vidro, por que o senhor usa essa camisa xadrez, por que o senhor tem esse barrigão, por que, por que, por que. Até que o glugluglugluglu de um peru no fundo do caminhão chama a atenção do chato, que pergunta, -o que é isso? É um peru, -um peru? -Isso mesmo. –É seu? –Sim. E o chato dana a assobiar e o peru a responder com os seus glugluglugluglus. O chato fiiiu e o peru glugluglugluglu. O chato fiiiu e o peru glugluglugluglu. Até que o motorista não agüenta mais e bota o chato para fora. –Mas eu vou ficar sozinho aqui nessa estrada? - Fique com o peru então.

Três dias depois volta o caminhoneiro pela mesma estrada e avista o chato e o peru no mesmo local, ele para e olha para o chato que assobiava fiiiu e o peru já quase desfalecido que grunhia um desesperado e inaudível graaammm respondia ao chato.

Isso certamente livrará a cara do nosso querido rapaz, agora ele está mais crescido, está virando homem, tomando mais juízo, aos poucos o gosto pelo estudo vai tomando conta dele, o que eram antes trinta notas ruis para uma boa, agora virou vinte notas boas para cinco ruis, parabéns garoto.

E não é que o garoto virou um homem mesmo, todo seu esforço em prol dos estudos frutificou, hoje ele é agente da Polícia Federal, Dautinho foi tão bem no treinamento de sobrevivência na selva, que virou instrutor, o melhor que já houve, vem pessoas do mundo todo para serem treinados por ele, ficam todos sempre boquiabertos e curiosos, como poderia um homem desenvolver uma técnica tão especial de caçar frangos e destrincha-los ainda vivos? O sorriso mórbido de satisfação, o seu olhar estreito para os cadáveres das aves no chão, assustavam até mesmo os seus superiores.

Sérgio Souza
Enviado por Sérgio Souza em 22/06/2007
Reeditado em 23/06/2007
Código do texto: T537119
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