Presepadas de Juca! 3

Juca e suas "luvas de pés"

Meu nome de batismo é Justiniano Ulávio Cristalino de Araújo. Quando criança meus familiares me chamavam de “Justin”, Na escola era conhecido por “Cristal”. Para acabar com todos esses apelidos infames juntei as iniciais do meu lindo nome e fiquei conhecido simplesmente por Juca.

Passei minha infância sofrendo de prisão de ventre. Eu sentia fortes dores por não conseguir ir ao “troninho” regularmente. Tudo que eu comia ficava retido em minha barriga e se transformava em gás que murchavam as plantas de minha mãe. Quando conseguia evacuar parecia que havia saído um dinossauro do meu intestino. Só faltavam os olhinhos para eu batizar aquele ser que jazia na privada. Era uma luta. Sofria cada vez que conseguia dar a luz àqueles dejetos insistentes que teimavam em ficar dentro de mim.

Tudo mudou na minha adolescência quando descobri um santo remédio para prisão de ventre: Cerveja!

Meu intestino passou a ser mais solto que dentadura em boca de banguela bêbado. Vira e mexe minhas cuecas aparecem com várias “freadas de bicicleta”. Uma vez estava eu dentro de um ônibus e senti uma dorzinha lá no pé da barriga. Não dei muita importância, estava concentrado em uma notícia no jornal do senhor sentado a minha frente. Passado mais um tempinho a dor voltou, só que mais forte. Senti uma pontada na “porta traseira”. A dor aumentou e junto a ela o suor escorreu em meu rosto. Sentia os “dinossauros” dando cabeçadas no meu “porão”. Desci correndo do ônibus e avistei uma pracinha que parecia deserta. Arriei as calças ao lado de uma árvore e comecei o processo de alívio. “Como foi boa àquela sensação de esvaziar o ventre”. Fiquei curtindo aquele momento até escutar vozes femininas se aproximando. Sem pestanejar coloquei meu paletó sobre a cabeça e continuei fazendo o “serviço”, afinal ainda faltava muito para acabar e não queria que ninguém visse meu rosto. Depois de um tempinho, já aliviado, pensei em me levantar. Constatei que não existia nenhum papel, folha ou até uma pedra para eu me limpar. Olhei para meu tênis e vi que estava usando meias brancas. Arranquei os dois calçados, tireis as meias e me limpei. Elas estavam imundas, mas era melhor que ficar com o “traseiro” sujo.

Fui seguindo o caminho de casa pensando naquele par de meias. Lembrei que não possuía outro seco. O outro par que eu tinha estava de molho no tanque lá de casa. Pensei em voltar e pegar as meias que usei como papel higiênico, afinal era só dar uma lavada e pronto, poderia usá-las mais uma vez. Aquilo foi martelando minha cabeça, até que resolvi voltar para pegar minhas tão queridas “luvas de pés”.

Cheguei ao local e vi um rapaz, vestido como um mendigo, deitado perto do lugar onde eu usei como “refúgio”. Procurei em volta e não encontrei minhas meias. Olhei para os pés dele e eis que lá estavam, as benditas, calçando-os. Falei para o rapaz que aquelas meias eram minhas e que as queria de volta. Ele retrucou dizendo que tinha achado o par jogado no chão e como estava com frio calçou-as com pressa. Comecei a ficar indignado, pois não podia perder aquele par de meias. Acho que senti uma sensação de perda que acontece quando nos distanciamos de algo que gostamos. Subitamente puxei um dos pés do cidadão que no mesmo momento levantou e partiu para cima de mim. Coloquei o pé de meia, que consegui arrancar, em minha mão direita e aproximei-a do rosto do homem. Este sentindo o cheiro parou e rapidamente tirou o outro pé jogando-o em cima de mim. Ouvi o indivíduo dizendo que com aquele cheiro era melhor ele usar uma cesta de lixo de banheiro na cabeça.

Saí correndo com meu tão querido prêmio. No meio do caminho já cansado e pensando no que faria quando chegasse a minha casa, me distraí, tirei o tênis e calcei as meias. Coloquei-as sem me lembrar do acontecido. Fui para casa com a certeza de que aquele par de meias era o meu preferido. E continua sendo!

Marcelo Pompom
Enviado por Marcelo Pompom em 06/11/2015
Código do texto: T5440000
Classificação de conteúdo: seguro