Errata
Estávamos na rodoviária, dessas de interior, eu e a patroa, com a boca seca, coçando para molhar a goela com a água que passarinho não bebe. Dei uma desculpa esparrada para o esposa, e parti para abençoado boteco que me atiçava a inteligência.
O garçon veio todo sorridente e apresentou o cardápio. Reparei, reparei, olhei e depois de conferir de cabo a rabo, fio a pavio, falei: "O que cê tem aí para molhar a goela".
- Só o que tá no cardápio. - ouvi.
Devolvi com a mesma pergunta: "Fora o que tá no cardápio, quê mais cê tem para beber, cabra".
O retado do garçon, retrucou: "conhaques, cerveja, vodka, run, uisques, cachaça, caipirinha, batidas, etc".
A água escorreu de minha boca. Nisto que olho ao meu lado, tava lá minha patroa. "Vim beber água, tô com bucho seco, Zé".
Tomei aquele choque, daqueles de quem é mandado por mulher, sabe com é. Cê sabe bem do que tô falando, pois bem; tentei sair pela tangente: "Não cabra bom, coisas pra bebê".
- Não entendi, explique direito, senhor.
- Coisas pra bebê, recém-nascido: fralda, chupeta, casaquinho, sapatinho, babadozim, tudo no diminutivo. - minha patroa tava com ele nos braços.
O garçon replicou nervoso: "ô patrão, cê entrou no açougue errado".
Falei pra dona da pensão: "até para comprar as coisinhas para nosso filhinho, eu erro o tipo de comércio. Vamos rápido, que o ônibus vai sair já. Estamos atrasado.
Rindo um riso meio esquisito e insosso, disse: "contrário do que todo mundo falava, ocê é uma pessoa boa, carinhosa e responsável. Por isto que casei com oncê, Zé; meu amô.
Abraçamos os treis. Ela atarracada com a criança nos braços e eu atarracado na cintura dela voltamos para rodoviária numa secura dos diabos: eu sem molhar a goela, o menino sem pingo leite na mamadeira e a moler sem um copo de água no bucho, sequer. Ô garçon cruel filho do cabrunco, que além do mais, trabalha no açougue errado, meu Deus!