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O MAL-ESTAR


 
O comboio avançava no seu rolar ruidoso e ritmado.
A tarde estava abafada, desde manhã que esse dia de Agosto se revelava invulgarmente quente.
O homem, esquálido, roupa amarfanhada e suja, olhava a janela. Virou o olhar para o resto da carruagem e fixou a única passageira, uma mulher sentada no banco em frente ao seu, desconfortável como todos os outros, com travessas de madeira a suportar o assento e o encosto. Era entroncada, quase gorda, de seio farto e opulento, pelas vestes parecia do campo ou então serviçal em casa brasonada. Esforçava-se por aquietar um pimpolho que se debatia nos seus braços e berrava de forma desalmada.
Por fim, desapertou o corpete e aliviando a camisa, extraiu um seio grande como cabaça, com bico rubicundo e enfiou-o na boca do petiz, que começou a mamar sôfrego, sossegando aos poucos. Ela respirou fundo, limpando o suor na testa e na cara.
O homem contemplava a cena com os olhos esbugalhados e perante a exuberância do peito da mulher não desviava o olhar. Ao fim de algum tempo o pequerrucho parou de mamar, estava saciado.
O comboio ia avançando, tinham fechado as janelas por causa do fumo da caldeira, o ambiente estava irrespirável.
A pobre mulher arfava, supostamente com o calor e também por causa do desconforto
das roupas quentes. Mexia-se no lugar, ora suspirando ora respirando pesadamente. Como notasse o olhar insistente do homem, justificou-se:
- Sabe? O mal-estar não é só pelo calor, este já é o meu terceiro filho e costumo ter sempre muito leite. Normalmente amamento dois petizes, o meu e o da minha patroa. Como só tenho aqui o meu cachopo, o excesso de leite dá-me afrontamentos e o calor também não ajuda…
- Se eu pudesse ajudar em alguma coisa…
- Ajudar como?
- Podia tirar o excesso de leite que lhe causa a indisposição…
- Como?
- Deixe-me experimentar - e ajoelhou-se à frente dela.

A mulher voltou a suspirar de novo, alargou mais os cordões do corpete e puxando a blusa de novo para baixo expôs o outro seio, grande e de mamilo espetado. O homem ajeitou-se, tomou-o entre as mãos e encostando a cabeça ao braço da mulher, começou a sugar o colostro que saía em profusão do seio. O pequerrucho dormia e a dadora, sentindo-se aliviada, soltou um grande suspiro.
Por fim, o homem deu-se por satisfeito e iniciou o movimento de retorno ao seu lugar quando a mulher, olhando-o com languidez, perguntou:
- Então… não quer mais nada?
Ele olhou-a e humilde retorquiu:
- Já agora, se a senhora tivesse aí umas bolachinhas, eu agradecia. Sabe? É que eu já não como nada há três dias.






 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 31/08/2016
Código do texto: T5745511
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