Minhas Fábulas__O Fantasma Espancador

Pedro e Paulo eram amigos inseparáveis e ambos, caixeiros viajantes. Juntos, percorriam as diversas cidades do interior do Maranhão vendendo as suas mercadorias. Não havia nenhuma concorrência entre os dois, pois um vendia jóias e o outro, tecidos e roupas.

Dos dois, Pedro era o mais esperto e gostava sempre de pregar umas peças no outro, sempre simplório e crédulo demais.

Um dia, os dois chegaram a uma cidadezinha e hospedaram-se num dormitório modesto, à beira da estrada, cujos quartos não eram servidos por camas, e sim por redes.

Num mesmo quarto, Pedro armou uma rede encostada à janela enquanto que Paulo arrumou-se mais lá no fundo.

Nessa noite, lá pelas tantas, não se sabe se sonhando ou acordado, Pedro sentiu-se apertado contra o fundo da rede por uma entidade estranha. Quis gritar, mas as palavras não saíam da sua garganta. Logo a seguir sentiu que o fantasma – ou seja lá o que fosse – desferiu-lhe fortes pauladas pelo corpo. Continuava gritando por socorro, mas as palavras não lhe saíam pela boca e, afinal, o fantasma foi embora.

No outro dia, Pedro, que julgava ter tido um pesadelo, verificou que tinha o corpo dolorido e que havia hematomas no seu peito e nas suas pernas. Perguntou para o amigo:

- Paulo, ouviste algum ruído, ontem à noite? Viste alguém abrir a porta do nosso quarto?

- Não, Pedro, não ouvi nada. Ninguém entrou aqui. A chave está ali, em cima da mesa. O que foi?

- Nada, nada, deixa pra lá...

Se Paulo não tinha percebido nada, se ninguém tinha entrado no quarto, Pedro chegou à conclusão que tinha sido vítima de uma alucinação, só que essa alucinação tomava a forma de um fantasma que lhe espancara de verdade. O problema é que ele gabava-se de jamais acreditar em fatos sobrenaturais, de modo que ficou com vergonha de relatar o acontecido para o seu amigo.

E o fato se repetiu por mais dois dias.

No quarto dia, já com o corpo todo moído de pancadas, Pedro falou, antes de armarem as redes:

- Paulo, podes me fazer um favor?

- O que é, Pedro?

- Olha, esse vento frio que entra pela fresta da janela está me incomodando. Não queres trocar de lugar comigo?

- Tudo bem, Pedro.

Pedro exultou!... Agora Paulo iria ver o que era bom pra tosse!...

Deu meia noite e o fantasma entrou no quarto. Com um porrete nas mãos aproximou-se da rede à janela. Mas, quando ia desferir as primeiras porretadas, refletiu:

- Hum, este aqui já apanhou demais... Tá na hora de meter o cacete no outro...

E dirigindo-se para o fundo do quarto, tornou a bater em Pedro, pois este havia trocado de lugar...

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 23/07/2007
Reeditado em 30/07/2014
Código do texto: T575935
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