Nos tempos da Chica e das Eleições
De toda aquela confusão eu mesma não entendia patavinas nenhuma e também não queria entender porque nunca gostei de muito hem hem hem.

Sei apenas que em épocas de eleição o bicho pegava fogo lá na minha cidadezinha do interior que não devia um centavo pra ninguém. Eu acho.

Eram dois partidos, cada um mais afoito que o outro. Na casa da Chica as encomendas diminuíam porque a Chica era de um partido e as clientes que eram do outro queriam ver o diabo e não a Chica. Eu mesma que sempre fui meia do contra com meus 10 anos era dos dois.

Porque era uma situação de pedir misericórdia a Deus. Na casa do meu pai e da minha mãe todos eram de um partido só, os funcionários do meu pai também. Eu é quem tinha que me virar com essa história de partidos A e B porque minha grande amiga era do partido B e meus pais do partido A.

Na escola nem se fala, e na saída das aulas todos os dias tinha uma briga. Aqueles pirralhos que mal tinham saído das fraldas já carregavam no sangue a politica ensinada pelos pais. E naquela época existiam os tais comícios e passeatas.
Minha simpatia era pelo partido do meu pai, mas não conto as vezes que na companhia da minha melhor amiga fui para o comício contrário escondido pra ninguém saber. Não saber? duvido! cidade pequena é o diabo, no dia seguinte era a primeira coisa que meu pai sabia. - O que era que a senhora estava fazendo no comício de... E eu com a cara mais lambida do mundo simplesmente dizia: eu mesma não.
Chame aí o fuxiqueiro pra provar!
Eleitores do partido A e partido B quando se encontravam não prestava não. A coisa era feia. Quem era amigo, nessas épocas deixava de ser. E pelo que eu pude observar ainda hoje é assim. E eu que imaginava que selvageria só existia naquele lugar, me enganei, quebrei a cara porque hoje estou vendo coisas iguais ou piores. Lembro que no dia das eleições vinham policiais do exercito para garantir a ordem.

Também era proibido a venda de bebidas alcoólicas. Também as pessoas dos partidos ofereciam almoço para aquelas que vinham dos sítios ou fazendas, para votar. A minha mãe também fazia uns panelões de arroz, feijão e carne. E depois das eleições e da posse, as freguesas da Chica retornavam com cara de Amelia, alegando que a Chica estava botando boneco! Tudo mentira, porque eu via tudo e mais um pouco! Enfim a pendanga continua a mesma, tanto aqui como lá.
E não duvido que um cliente deixe de comprar em determinada loja porque o dono é de outro partido.
Também não duvido se alguém morrer ou bater as botas só compareçam pro enterro pessoas do mesmo partido.
Nesse mundo velho que até hoje não colocaram a porteira, não duvido de mais nada.
Se fosse nos tempos da Chica perguntaria pra ela que gosto tem o poder. E ela com certeza diria de mel.
Emedelu
Enviado por Emedelu em 25/10/2016
Reeditado em 25/10/2016
Código do texto: T5802327
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