QUEM FAZ MILAGRE É SANTO. DEUS NÃO PRECISA

Caríssimo Pedro:

Você não me conhece. Mas saiba que tenho lido tudo que você escreve. Concordo com a maioria de suas idéias. Por isso tomei a liberdade de consultá-lo.

Tenho em mente algo totalmente novo. Que pode até parecer estranho num primeiro momento. Mas acredito seja perfeitamente viável. Explico:

Sempre pensei em ser santo. Aliás esse é meu apelido.

Mas não gostaria de atingir esse glorioso estado somente depois de morto, como costuma ser a regra.

Quero ser canonizado. Mas em vida. E breve, para poder desfrutar imediatamente de toda a graça e beatitude inerentes a toda santidade.

Estou plenamente ciente que preciso realizar milagres. E é por isso que agora decidi escrever-lhe. Conto-lhe:

Moro num prédio enorme. E, tenho muitos amigos e companheiros. Às vezes realizamos almoços festivos. Nessas ocasiões costumo cuidar da comida.

Outro dia convidei dez companheiros para um almoço de confraternização. Iria servir filé mignon alto ao molho de vinho, mostarda e champignons.

É um prato soberbo, como você bem sabe.

Mas ocorreu algo de todo imprevisível.

No lugar daquelas dez pessoas convidadas, compareceram vinte, exatamente o dobro do esperado.

Confesso que inicialmente assustei-me. Pensei até em elaborar às pressas um talharine ao sugo, como prato alternativo.

Mas logo abandonei essa idéia. Porque num milagroso vislumbre atinei com a solução.

Os bifes eram generosos. Mandei dividi-los, todos, em dois.

E, com dez bifes, dei de comer a vinte pessoas.

O fato foi público e todos os presentes puderam acompanhá-lo.

Entretanto, logo depois, algumas dúvidas passaram a assaltar meu espírito. Esse o motivo da minha consulta.

Primeira pergunta: a circunstância de milagre semelhante já ter sido praticado anteriormente poderá tirar o brilho ou a validade deste que acabo de realizar?

Segunda pergunta: Sei que o processo de canonização é complicado. Eu tenho apenas vinte testemunhas. Serão suficientes?

Terceira pergunta: Quantos outros milagres serão necessários praticar para obter a santificação? (Já bolei outro genial – depois eu conto).

Espero ansioso sua resposta.

Um abraço

Babalu Silva – vulgo Santo

Ala 3/27 – I.R.M.

RESPOSTA

Amigo Santo:

Confesso-lhe que não sou especialista no assunto. Entretanto permita-me dizer-lhe.

Se fosse você não perderia tempo tentando ser santo.

Partiria logo para algo maior e mais abrangente.

Porque tentar ser prefeito se você pode ser presidente?

Abandone essa idéia pequena. Mas esforce-se por identificar-se com a divindade maior.

Seja Deus! É mais fácil e dispensa a realização de prévios milagres.

Aliás nada está a impedir que você seja Deus desde já.

Pode ter certeza que nunca houve, em qualquer período da história, momento mais propício.

Porque, sejam quais forem suas idéias, por mais malucas e absurdas que possam ser, você logo terá uma legião de seguidores.

Se facilitar até ficará rico.

Sucesso! E um forte abraço.

Pedro