A guerra do chuchu
Háa! Sim,o chuchu!
Fruto dos mais desinteressantes, coitado! Segundo alguns historiadores, essa hortaliça-fruto já era cultivada no Caribe à época do descobrimento da América. É uma trepadeira herbácea da família das cucurbitáceas.
Era bem conhecida na antiguidade pelos astecas e tinha grande destaque entre as demais hortaliças cultivadas na época, devido ao seu sabor característico e bastante suave, podendo ser consumido durante o ano todo. De fácil digestão, rica em fibras e pobre em calorias, bom para um regime alimentar.
E seu aspecto é verde, e na verdade, tem sabor aguado, de nada com coisa nenhuma que , francamente, não lhe é favorável...
Segundo Paulinho Mixaria, um ótimo comediante gaúcho (procurem no youtube), existe uma teoria que diz que o " chuchu é o quarto estado físico da água!"Assim: sólido, líquido, gasoso e...chuchu!
Vamos combinar , ô comida mais sem graça mais xôxa!...Difícil achar quem ame chuchu!...Dos legumes verdes, tem gente que adora torta de espinafre, couve refogadinha, repolho enroladinho, mas ,já viu alguém desejar um picolé de chuchu? Criança, então, é raro!
Por isso, a guerra estava armada na casa dos Couto.
Só de olhar o chuchu no prato , Leopoldo Heitor Jr. se arrepiou, fez careta e se ouviu na cozinha:
- Ecs! Não quero isso!
A mãe insistia, afinal se gastou descascando o legume viscoso e baboso:
- Come! Experimenta, você nem provou! É bom, querido, prova...vai!
A criança, irredutível, tasca na sinceridade:
- É bom nada! Por que você não dá para o pai? Ele nunca come!
A mãe faz chantagem, se humilha, enquanto olha o pai pedindo socorro. Ele, nem aí...
- Sabe, Adelaide, depois do almoço vou na casa do Marcão! Marcamos com os rapazes de ver a reprise da final do GreNal!- falou Leopoldo pai, orgulhoso tenente do exército brasileiro, que adorava as cores da bandeira nacional, mas no prato dele, nada verde!
Fazendo cara de pastel, ele desvia o olhar da mulher que o fuzila, e a gente sabe que o exemplo tem que vir de casa....
Bancando o herói, ele, o pai, tira um bocado da pasta verde da panela e coloca no prato. A mãe acompanha a operação com atenção.
- Vê, Leopoldinho Júnior? O papai está comendo sim!
E o pai leva à boca, fazendo carinha de feliz... Na metade do percurso, já tinha se arrependido!
O cheiro do chuchu cozido também não era bom, muito menos a carranca que virou a cara do Leopoldo pai ... mas o Júnior estava de olho fixo no seu herói!
A garfada não foi feliz! Somente o olhar da mãe, mais eficiente que uma metralhadora, e o de expectativa do filho, faziam o petisco não sair por onde entrou!
Resvalava entre dentes, bochechas. Para desespero, uma partezinha fibrosa teimava em não dissolver, por mais que mandasse de um lado ao outro.
" Borracha! Ai, caramba! Quem consegue mastigar borracha?" pensava o pobre Leopoldo pai, suando em bicas pelo esforço dispendido.
Júnior de olho. A mãe:
- Viu ,meu bem? O papai comeu tudinho!
- Mas, não engoliu nadinha!!! Leopoldo Júnior tinha olhos de Thandera, via tudo!
Já sem saída, e nauseado, o pai apela para o que sobra: nada de Piaget, vem cá Pinochet!
- Olha, Júnior! Come! Deu de fazer manha?! Você já está grande para isto!
- Mas, você não comeu tudo e...
- Chega! Quem tem que comer é você! Eu sou adulto e já comi o suficiente para crescer! E quero prato limpo!
Depois, lembrando do terrível gosto-sem gosto do chuchu, cheio de culpa e remorso, propõe:
- Se comer tudo, depois te levo no Shopping prá ver a exposição do Ben 10 e do Homem - Aranha, tá? E saí da mesa apressado. Precisa se arrumar prá ir na casa do Marcão.
Sem saída, Leopoldo Júnior responde:
- Tá bem!!...Fazendo beicinho, garfeia o chuchu.E ...adora!
Milagres acontecem e Leopoldo Júnior se rende ao chuchu!!! Até repete, prá firmar de vez o acordo com o pai.
Leopoldo pai volta prontinho prá sala ....e sorri amarelo.
- Olha paiêee! Comi tudo!
Agora, não poderá ir assistir a reprise do jogo com seus amigos na casa do Marcão. Trato com filho, é trato de honra!
E, pensando bem, o guri até que merece, pois quem enfrenta o chuchu, o vilão aguado, e se dá bem, precisa até ganhar medalha!