A gafe

Gafe

Quem não as cometeu? Uns mais, outros menos. Mas todos nós, um dia cometemos as nossas. Lembro bem, quando trabalhava em uma financeira, éramos obrigados a usar camisa social e gravata. Faleceu minha vó e fui até a empresa comunicar que não iria trabalhar por esse motivo. Fui esportivo, e um colega meio atravessado perguntou-me: “vai brincar carnaval”? Quando disse-lhe o real motivo de estar esportivo, coitado, pediu mil desculpas. Mas acontece.

Outra vez, junto com minha namorada, hoje esposa, convidei minha cunhada e o namorado para jantarmos fora. Fomos a Palhoça do Melo, restaurante famoso no bairro das Graças, que servia um galeto inigualável. Nos assentamos e fiz o pedido. Um galeto completo. Hoje não, mas antigamente o “couvert”, que hoje chamamos de entrada, era servido sem se consultar. Vinha pepino cortado em tiras, cenoura, cebolinha e umas bolinhas de manteiga congelada. Meu concunhado apressadamente enfiou o garfo em uma bolinha de manteiga ofereceu a namorada. Ela rejeitou e ele enfiando o garfo na boca exclamou: “batatinha”!. Engoliu a bolota de manteiga fazendo careta e ainda aguentou a gozação da namorada. Ainda hoje quando nos encontramos ofereço-lhe “batatinha”.

Tem gafes que nos colocam em apuros. Tenho um compadre muito cínico, brincalhão. Na época ele era gerente de banco e fazendo-lhe uma visita notei uma jovem caminhando até o caixa. Mas não era uma jovem qualquer. Não era muito alta, mas em cima dos saltos chamava atenção o seu traseiro acima de um par de coxas de fazer inveja a qualquer miss. Não me contive e virando-me para meu compadre, que atendia um cliente, falei: Véio, que era como o tratava, vê que bicha boa da gota. Ele apontando para o cliente e sorrindo disse: “é a esposa dele”. Fugiu-me o sangue e sem graça, caminhando rapidamente, só pude dizer, vou ali na cobrança pegar uns documentos. Só ouvi quando o tal cliente, marido da dita cuja boazuda, disse: a cobrança é para o outro lado.

Teve uma outra gafe comigo que não esqueço jamais.

Era os idos de 1970, eu era Diretor Social de uma associação de funcionários da financeira que trabalhava. Fizemos uma excursão a Natal, no Rio Grande do Norte, e lá fomos recepcionados pelo gerente da filial do Banorte, de nome Gelso. Tinha um outro gerente em outra filial que se chamava Edivardo, ele brincando dizia que trocaram o “r” do nome dele pelo “l” de Edivaldo. Divaguei. Voltando a gafe. A noite Gelso ofereceu um jantar a comitiva no Clube América, o mais famoso clube social da época. Jantar para 40 pessoas. Eu sentei numa cabeceira e Gelso na outra ponta. Os garçons começaram os serviços e colocavam na mesa o couvert dentro de uma conchinha de aço inox gravado o nome do clube. Achei a peça linda e imediatamente derramei os alimentos que havia nela, manteiga, cenoura, pepino em outra e coloquei-a na cintura, por baixo da camisa, presa pelo cós da calça. Tudo bem. Jantamos e ao final, os garçons começaram a servir café e o gerente pediu algo que não entendi, para acompanhar. Só ouvia o zum, zum, zum. Contou, contou, contou, aí perguntei o que é? Só entendi dizerem o garçom contou. Então meti a mão por baixo da camisa e devolvi a linda concha. Mas qual não foi minha decepção quando vi que o garçom estava servindo um licor com o nome francês de “Cointreau”, que se pronuncia “contrô”, e eu com culpa no cartório entendi, “O GARÇOM CONTOU”.

Nunca mais deixei de tomar Cointreau depois do almoço num restaurante.

Massilon Gomes
Enviado por Massilon Gomes em 09/01/2017
Código do texto: T5876264
Classificação de conteúdo: seguro