PATINHAS DE CARANGUEJO AO AZEITE E ERVAS FINAS OU NÃO SEI O QUE É MAS NÃO GOSTEI

Fui à praia. Do jeito que gosto de frutos do mar foi o tempo de tirar a roupa, vestir uma bermuda, colocar uma sandália e sentar-me à mesa de um bar instalado na areia.

Pedi tudo que tinha direito.

Camarões, mariscos, caranguejos e peixe frito.

Com caipirinha. Rápida, intravenosa, que ninguém é de ferro.

Mas não me encontrava sozinho.

Minha namorada examinou detalhada e demoradamente o cardápio. E disse:

“-Pedro. Por favor. Quero uma porção de salaminho.”

Não acreditei. Morreria, mas não iria fazer ao garçom um pedido maluco desses.

Tentei argumentar. “– Meu bem. Salaminho não combina com mar! Nem com areia! Menos ainda com este gratificante cheiro de maresia!”

Fui vencido. O máximo que consegui foi transformar o salaminho numa porção de fritas.

Resignado, esperei.

Os pratos foram chegando.

“-Meu bem. Experimente o peixe. É divino. Observe os nacos que se destacam, alvos, tenros e deliciosos.”

“-Tenho medo das espinhas.”

“-E estes camarões. Soberbos! Crocantes ! Magníficos!”

“- Quando criança tive uma alergia e fiquei com o corpo todo empipocado. Não tenho certeza, mas acho que foram alguns camarões que comi. Prefiro não arriscar.”

“- Você não quer experimentar estes caranguejos? Deixe que eu separe a carne de uma patola. Juro que não faço isso por ninguém. Pois abrir mão de uma puã é fortíssima prova de amor. Estou colocando algumas gotas de limão. Prove!”

“- Não sei! Mas acho que não vou gostar!”

“- Quem sabe um mexilhão. É do tipo perna-perna. Cozido no ponto certo. Seu sabor é inesquecível. Você vai adorar.”

“-Pedro! Desculpe-me! Mas não sou a pessoa certa para acompanhá-lo nessa degustação. Prefiro as fritas!”

Ela era linda. Tinha todos os atributos femininos do tamanho exato, nos lugares certos.

Mas era curta de paladar. Seriam necessários muitos anos para ensiná-la. E eu não tinha esse tempo todo. Nem paciência.

Troquei-a por uma menos dotada. Mas deliciosa. Que sabia preparar umas patinhas de caranguejo extraordinárias.

Sei que costumava compra-las já livres de cascas nos bons supermercados.

Recolhia-se à cozinha. Mas em poucos minutos retornava, radiante, com um prato de rara beleza e incomparável sabor.

São facílimas de preparar. Acompanhe-me.

Calcule algo em torno de trinta patinhas por convidado magro. Para os mais fortes reserve o dobro desse número.

Descongele-as, rapidamente, no micro-ondas. E mergulhe-as, delicadamente – anoto que são muito frágeis – em água a borbulhar, levemente salgada e temperada com vinho branco seco.

Quatro ou cinco minutos de cozimento deverão bastar. Esfrie em água gelada. Seque-as com cuidado em papel toalha e coloque-as com cuidado em um prato decorado.

Regue-as, generosamente, com o melhor azeite de oliva que encontrar e pulverize sobre todas uma boa quantidade de ervas finas. Complemente com um leve toque de sal e uma pitada de páprica doce e picante.

Faça-as acompanhar de uma pequena cumbuca de molho tártaro.

Sei que será um sacrifício, mas lambuze-as sem pressa nesse molho antes de levá-las à boca.

Chupe-as sem temor, que o barulho é livre.

E rebata tudo com três ou quatro goles de cerveja horripilantemente gelada.

Êxtase ?

Mentira!

O que você está sentindo é intenso orgasmo gastronômico!