Eu era magro

Eu era Magro

Eu era magro. Melhor dizendo, muito magro. Houve quem dissesse que para ser magro eu deveria engordar uns dez quilos. É sério. Aos vinte e seis anos, eu tinha quarenta quilos e um metro e sessenta e cinco centímetros. O ideal é o peso corresponder aos centímetros. Estava devendo vinte e cinco. Imaginem. Por conta disso passei por situações constrangedoras.

O Banco do Estado de Pernambuco inaugurou um prédio no bairro do Recife, onde instalou sua matriz. Como avanço tecnológico na época, a porta de entrada de vidro era acionada por uma plataforma de metal que ao se pisar, um mecanismo abria a porta e na saída o mesmo acontecia. Tive que ir ao banco. Chegando lá pisei na tal plataforma e nada, a porta não abria. Pulei na plataforma. Nada. Pensei comigo, deve estar quebrada. Quando já ia voltando um senhor pisou na plataforma e a porta se abriu. Pensei, voltou a funcionar. Tentei novamente. Nada. Uma moça pisou e entrou. Aproveitei e entrei também. Aí entendi que era muito leve para acionar o tal mecanismo e no Bandepe só entrava e saía, acompanhado. Nas pontes do Recife, no meses de agosto, eu só atravessava segurando a mão de alguém, com medo ser jogado no rio pelo vento.

Outra vez fui ao médico pois estava com uma forte gripe. Nos consultórios médicos normalmente tem um quadro com um vidro esfumaçado e umas luzes atrás que servem para análise de radiografias. Para mim não foi preciso. O médico mandou que eu me encostasse no referido quadro, acendeu a luz e disse-me: “respire”, “outra vez”, “novamente”. Aí foi que notei que ele olhava atentamente para meu tórax sem camisa e assim concluiu que meu pulmão estava limpo. Questionei: não vai mandar fazer uma radiografia? Ele respondeu: “para o senhor, essa luz resolve”. Foi humilhação demais.

Nem tudo é ruim em ser magro. Roupa por exemplo, gasta-se pouco tecido. Camisa listrada, uma listra na frente, outra atrás, não dava duas. O maior elogio que já recebi, foi justamente por ser magro. Tinha um cliente endividado com a empresa e veio me solicitar um parcelamento de forma que pudesse saldar sua dívida e continuasse com o crédito aberto. Consegui atendê-lo e ele saiu com essa: “ seu Massilon, eu não sei como num tórax tão pequeno cabe um coração tão grande”. Eu nem entendi que ele me chamou de magro, preferi entender que meu coração era grande demais pela minha bondade.

Meu casamento. Sim porque magro também casa. A noiva era só seis quilos a mais que eu, mas representava muito. Tinha carne. Eu, a carne que tinha na bunda, não dava pra rechear uma empada. Mas, mesmo assim ela quis. Vamos a cerimônia. Mandei fazer uma camisa de seda, manga comprida, punho duplo, cor de rosa e uma calça xadrez roxo. Até aí tudo bem, era inovador. Contratei um “organista”, hoje é tecladista. O organista tocava órgão. Órgão instrumento musical. Não confundir. Pedi para ele tocar, na minha entrada, digo, quando eu estivesse entrando na igreja, o tema de um desenho animado de Hanna Barbera, muito famoso na época, “A pantera cor de rosa” que era mais ou menos assim: Param, param. Param, param, param param param, paramramram. e tinha o passinho da pantera que minha mãe negou-se a fazer, dizendo que não iria participar da minha brincadeira. Então tirei o passinho e ela entrou elegantemente de braços comigo, com uma belíssima peruca Canecalon, moda na época. Essa peruca se alugava no salão e já vinha com o penteado pronto, (coisa horrível), digo linda. Após a cerimônia fomos para casa e lá chegando, encontramos uma dúzia de amigos e amigas que foram nos recepcionar e que inventaram de que a noiva tinha que entrar na casa carregada pelo noivo. Pode? Eu com quarenta quilos, carregá-la com quarenta e seis? Não tinha como. Arranjamos um jeito. Imaginem a cena: Eu segurando a esposa pelos ombros e minha irmã junto com uma colega segurando-a pelas pernas e outra segurando pelos quadris. rapidamente atravessamos a porta e quase a derrubamos no chão. Após essa aventura o pessoal negava-se a sair. Ameacei tirar a roupa. Não saíram. Tirei a camisa. Gozaram com meu físico, (no bom sentido), contaram minhas costelas. Tirei o cinto, continuaram. Quando arriei as calças deixando a mostra a cueca com o nome das solteironas que pretendiam casar, correram todas e pude ir dormir em paz. Em paz, nem tanto, afinal era minha noite de núpcias.

Massilon Gomes
Enviado por Massilon Gomes em 03/02/2017
Reeditado em 03/02/2017
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