Eu no passado, Eu no presente!
Antigamente eu era tão bonito
Que ficava até por mim mesmo aflito
Mas hoje em dia ando meio empenado
Que nem pelas garotas sou mais requisitado
Um dia aquele porte galante
Foi para mim o bastante
Para conquistar e ser desejado
Hoje elas passam somente e sofro calado
Eu era muito, entre amigos, popular
Eram jantares e almoços, todos a me pagar
Hoje nem um copo de refrigerante me é dado
E se não me cuidar me chamam até de "folgado"
Os cabelos ainda me sobraram, mas a cara não ajuda
Garotas passam por mim e é um Deus nos acuda
Só sinto o perfume e admiro o corpo delas
Que passam zombeteiras que até evito olhar para elas
Nos finais de semana sou eu mesmo a minha companhia
Foi decisão aos poucos porque eu muito sofria
Ouvindo uma música aqui, um filme ali, compenso nas comidas
Tudo para não mais ser humilhado e curar as feridas
Não sei poetar, não toco flauta e nem mesmo dedilho um violão
Em tudo sou muito ruim, em nada sou “bão”
Se ao menos tivesse um hobby para me distrair num canto
E alguma boba caísse no meu papo, e “desencanto”
Na cozinha nem lavar a louça eu sei
Fritar ovos e pipoca de micro-ondas até cansei
Como vou surpreender uma gata e encantá-la
Se o meu rango pode até envenenar e matá-la?
Morando sozinho tenho que lavar cuecas e meias
As camisas e calças de tão velhas ficaram feias
Falo sozinho o tempo todo
Limpo o quintal e varro o lodo
Outro dia uma velha me sorriu faceira
Jogou um olhar cansado, parecia feiticeira
Pensando ela que eu até corresponderia
Que nada ....... fechei a porta até da lavanderia
Dois “veios” juntos só o cemitério quer
Está cheio deles, homem e mulher
O silêncio deste lugar já é um aviso
Para ficar quieto, nem mesmo um sorriso
E não bastasse eu estar ficando feio e mal-humorado
Sem ninguém, sozinho e mal-amado
Ainda tenho que aturar fofocas que inventam de mim
Por ter escolhido uma vida solitária assim
Ah senhoras e senhores desse país onde a velhice é um pecado
Onde moram pessoas do bem e mal-amados
Não se avexem porque tudo chega na hora certa
A barriga, as pelancas, a dentadura e junto a descoberta:
De que o final de tudo vem somente no final
E enquanto não chega vamos temperando com açúcar e sal
E eu que não sou bobo e não quero nem “sabê”
Quero mais comer fondue com um bom vinho Cabernet!
E tenho dito!