O gaúcho bunda mole! = EU mesmo!

Quem falou que ter nascido em Porto Alegre garantiria algo bom?
Sou um gaúcho bunda mole, daqueles que não falam mais no tom
Nem tchê, nem guria, nem bah, nem mesmo guri
Um dia de lá fui embora, um dia de lá fugi


O que adianta falar: fazer rancho ou soltar pandorga
Se não estou mais lá e por isso ninguém mais me outorga?
Ai de mim se eu perguntar: “Já fostes aos pés, hoje? ”
Vai ser caras incrédulas, caras de nojo


Agora só falo mexerica e não mais bergamota
E quando aquela lá, no sul eu menciono, sou olhado como uma marmota
“Paulista burro, perdeu as raízes, bem capaz! tu fugiste da raia
Volte para a avenida Paulista, aqui é a rua da Praia!


Até o meu querido bairro Ipanema onde eu feliz andava
A água do Guaíba hoje é poluída, matou os peixes que eu pescava
Mas ainda ando na beira daquele rio
No verão de Porto, na primavera, outono e também no frio


Se eu explicar que o meu carro deu uma pechada
Ou ainda pior, uma bangornada
Quem vai me entender?
Mal poderei de me rir conter!


Do meu pai levava uma bela tunda
Era palmada nas pernas e na bunda
Para aprender a ser homem do bem
E a respeitar as chinocas e velhos também


Ah se eu comentar que o meu Grêmio está tri legal, beleza
Ainda vão achar bacana, “com certeza! ”
Quando eu comemorar com um belo chimarrão e um vazio
Vão me achar esnobe, um perfeito imbecil


E a alturinha.... bah tchê, nem se fala, então
Somente 1.67, quando se esperava um alemão
Falo ao telefone que me encontre em tal lugar
E a pessoa se surpreende com quem veio encontrar


Ela vinha olhando pela rua e o pescoço quase torceu
Pensando que encontraria um filho de europeu
Eu já falo: “estou aqui em baixo, minha querida!”
E ela sorri um sorriso falso, aquela fingida!


Pede a minha identidade porque não acredita
Pela aparência que sou gaúcho, e então hesita
"É mesmo “tu”, com quem ao telefone falei?"
Então, já saco a identidade porque cansei


E as piadas jorram sem graça, todas banais
E tenho que rir para que eles achem que são tri-legais
E numa briga com palavras bobas e cretinas
Rivalizamos quem é mais bicha: Pelotas ou Campinas


Não me atrevo a ginetear um cavalo
Se montar eu caio e na terra eu entalo
E me esborracho todo no chão
E para não ser motivo de chacota, nem tento, não


Mas sou mesmo um bom bagual
Porque encontrei um amor sem igual
Não é do Sul, vem lá do centro oeste
Onde mora gente valente, o cabra da peste


Ah meu querido pago
Que hoje somente no peito trago
Deus te abençoe e que esse povo valente e brigão
Possa viver na paz e na harmonia de coração


Mas eu acho que já deu pra ti, baixo astral!
Porque o que quero mais é pôr a erva no bornal
Colocar na noite fria um vazio, picanha e queijo no brasão
Tomar um bom vinho tinto, depois enxaguar tudo com chimarrão


E um dia então, em Gramado, Caxias ou Canela
Iremos nos casar e na lua de mel, eu vou amar ela!

Ela=Poetisa SIMONE MEDEIROS, aqui do Recanto, sim, daqui mesmo!
Paulo Eduardo Cardoso Pereira
Enviado por Paulo Eduardo Cardoso Pereira em 02/07/2017
Reeditado em 23/05/2021
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