O rabo dos outros

Moço, muito boa tarde! Sei que deve estar comprometido com esse seu afazer e certamente tem pedidos urgentes a entregar a outros clientes, mas gostaria de suplicar-lhe que adiantasse o meu lado colocando à frente de sua produção o que tenho a lhe encomendar. Veja só, gostaria que confeccionasse para mim uma faixa com os seguintes dizeres: Caro cliente, não trabalho a prazo. Por favor, não insista. Pode ser na cor vermelha sobre fundo branco para ficar bem visível, porque tem gente que tem o péssimo hábito de fingir que não está vendo os avisos e não quero dar chance para que essa desculpa esfarrapada me seja dada. Veja o senhor que o meu trabalho também é artesanal como o seu. Sou manicure, sabe? É um trabalho artístico como esse do senhor e moroso feito um processo na Justiça. E não há de ver que tem gente com o descaramento de, depois do serviço feito, anunciar que vai me pagar depois. Ora! Depois quando? Eu pergunto. Quando eu tiver dinheiro, elas dizem e aí, ó: posso por na conta do Abreu. O pior o senhor não sabe. Tão sempre falando que as outras são caloteiras. O macaco enrola o rabo, senta em cima e fala do rabo dos outros. Não é mesmo? Isso! Pode ser assim, na medida de um metro por setenta para ficar com um letreiro bem grande. Já que o senhor está começando a fazer acho que vou até esperar, assim não preciso voltar depois para buscar e já resolvo de vez a questão. Se me der licença vou me sentar um pouco enquanto não fica pronto. Posso provar do seu café? Nossa! Que delícia! Aprecio muito um café encorpado assim... Os tempos tem sido difíceis, bobo. Não podemos nos dar ao luxo de perder dinheiro. O pior é que quando fica fiado a gente acaba perdendo até mesmo o cliente... Puxa! Como o senhor é habilidoso! Com que rapidez e perfeição faz essas letras! Também, né? Anos e anos de prática... Eu também, modéstia à parte sou boa no que faço. A coisa é assim quando a gente gosta do que faz. O problema mais sério, como eu ia dizendo, são as pessoas de má fé que nos procuram para o serviço já com a intenção de dar o calote... Mas, Gente! Olha que bonito que ficou. Olha. O senhor tá de parabéns, viu? Gostei de ver. Trabalho bom e rápido. Vou afixá-la agora mesmo bem na entrada, pra que ninguém se faça de bobo. Me diz uma coisa: posso pagar o senhor na semana que vem?

Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 31/08/2017
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