Mais vale a fé do que o pau da barca

Tem gente que acredita em bandeiras estranhas, em deuses estranhos, em amuletos, em horóscopo, em cartomante e até em determinados políticos, que no correr dos decênios mudaram de máscara, mas mantiveram as fuças e as intenções escusas. Não é disso, porém, que quero falar, mas dessa coisa que chamamos de fé, ou seja, o nosso acreditar. E isso faz sim a diferença na vida de qualquer um.

Lembro-me daquela velha história do enfermo cujo compadre saía de viagem para a Terra Santa e foi lhe fazer uma visita antes de embarcar. O acamado pediu-lhe que lhe trouxesse de lá uma lasquinha da cruz do Cristo, que tal objeto lhe restituiria a saúde. Embora sabendo que seria impossível prometeu ao compadre que lhe atenderia o pedido. Contam que o sujeito viajou, aproveitou o máximo do passeio e só quando voltava é que se lembrou da promessa, então com o próprio canivete arrancou uma lasquinha do balaústre do convés do navio em que viajava. O fato é que o enfermo acabou se recuperando, diante do que o seu compadre acabou concluindo: mais vale a fé do que o pau da barca.

E, claro, tem também quem acredita em simpatias. A pessoa mais sovina que Eleotério conhecia chamava-se Mané Tibúrcio. Era mesmo do tipo que usa frente e verso do papel higiênico. Pois naquela manhã o matuto estava no chiqueiro alimentando os porcos quando avistou o Mané se aproximando. Bateu palmas ainda fora da propriedade, na porteira, como o costume do lugar.

_Dia, Lotero!

_Dia, Sô Mané! Entra aí, sô.

Entrou, debruçou-se nas tábuas do chiqueiro e ficou assistindo ao outro terminar a tarefa.

_O que é que te trás aqui a essa hora, Sô Mané?

_Venho pedir sua opinião Lotero. Sua porcada tá gorda e sadia. Já eu num tô tendo sorte, sô. Os bicho num disinvorve direito. O quê que ocê me fala?

Eleotero que já sabia a causa do problema já foi contando o riscado:

_Uai! O causo é simpre. Vô te ensinar uma simpatia, se ocê fizer do jeitinho que eu falar a sua porcada engorda.

_Pois então fala, home.

_Toda vez que ocê for dar comida pra eles, pega um pouco do resto que eles largarem no coxo e passa no fio do lombo de cada um. Faz isso um mês seguido e depois me conta se os bicho ingordaro ou não.

Mané coçou o queixo pensativo, mas foi embora disposto a seguir o conselho.

Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 20/09/2017
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