NEM MORTO...
 
O sonho de João é viajar de avião, mas ele tem medo de não conseguir se controlar emocionalmente dentro da aeronave quando chegar esse dia. Apesar de ter essa vontade desde criança, afirma que uma viagem aérea não é tão segura quanto dizem, principalmente quando o assunto for a necessidade de reabastecer o avião em pleno voo.

O vizinho dele, que num passado bem distante, pilotou um teco-teco de um fazendeiro muito rico que existia na região, brada, com certa altivez, que foi um piloto de primeira linha e que adora viajar de avião. Afirma que sempre irá preferir uma viagem aérea, a conduzir uma motocicleta no trânsito agitado de uma cidade grande, mas nem isso serve para encorajar seu confinante medroso.


O tempo tem passado no seu compasso natural e João ainda não conseguiu realizar seu sonho pueril, por razões óbvias; uma delas é que nos dias atuais as passagens aéreas estão muito caras, mas, mesmo que ele conseguisse financiar um pacote de viagem, precisaria se curar urgentemente dessa acrofobia que tanto o incomoda.

Seu medo das alturas é tão grande que, mesmo estando desempregado, dia desses ele rejeitou um emprego para atuar na função de auxiliar de limpeza, porque foi informado durante a entrevista admissional que de vez quando ele teria de usar uma escada para limpar as fachadas de algumas casas térreas.

No bairro onde ele mora há um escadão, uma espécie de atalho que serve para diminuir o percurso da chegada à sua casa, mas ele evita utilizá-lo sob o pretexto de que subir escadas com certa frequência é prejudicial para o coração.

João é uma pessoa extremamente religiosa e ele tem afirmado com todas as letras, lá na igreja onde congrega, que não gostaria de ir à morada dos mortos, após deixar esse plano terreno; se lhe for permitido, gostaria de subir aos céus, contanto que não seja por meio de uma aeronave, nem com a utilização de escadas.