PUDIM DE ROMA ANTIGA
-Senhora! Aceitaria para a ceia desta noite uma lagosta a l’armoricaine?
-Não. Pense em outra coisa. Estou cansada de lagostas.
-Permita-me, então, sugerir um “tajarin” piemontês ao molho de manteiga e salvia fresca recoberto por finas fatias de tartufo bianco D’Alba.
-Nem pensar! Você sabe que estou fazendo dieta e jamais ousaria comer um prato de macarrão ainda que com trufas brancas!
-Madame! Quem sabe alguns escargots à la Bourguignonne. Penso naqueles graúdos, franceses, legítimos!
-Não Zacarias. Gosto muito deles mas hoje não me apetecem.
-Perdoe-me senhora. Mas que tal uma sumarenta posta de salmão grelhado “au caviar rouge”?
-Não. Hoje não estou afim de peixe!
-E uma “faraona al vino Moscato” acompanhada de tenros legumes ao vapôr? É um prato leve e saboroso.
-Jamais. Nem pensar. Hoje não pretendo comer nenhum tipo de ave!
-Penso que já descobri, madame! Sei que a senhora está enfarada de tanto comer pois faz isso pelo menos duas vezes ao dia. Fato que vem se repetindo há anos seguidos.
-Mas lembrei-me de algo que tenho certeza jamais experimentou.
-Trata-se de um pudim cuja receita tem vinte e um séculos de existência. Era o doce preferido de Catão, político romano lembrado por seus rígidos princípios morais que viveu na época das Guerras Púnicas.
-Acredite, minha senhora. Jesus Cristo só iria nascer cem anos depois e, o açúcar, só se tornaria conhecido dezessete séculos mais tarde.
-Sei que vai amá-lo. Mas precisarei prepará-lo. Por favor, madame, acompanhe-me.
-Vou picar em pedaços um quilo de queijo fresco. Acrescentarei uma terça parte, em peso, de mel, uma quinta parte de farinha de trigo integral e um ovo ligeiramente batido.
-Agora coloco tudo na panela, levo-a ao fogo e passo a mexer contínua e vigorosamente por quinze minutos. Despejo o amálgama resultante, escuro e rústico, numa travessa apenas lambuzada com azeite de oliva.
-Senhora! Aguardemos alguns minutos para que esfrie quando será servido apenas salpicado com mel silvestre.
-Pronto. Por gentileza. Quero que experimente este pudim, madame.
O degustar foi lento e concentrado. Afinal aquela nobilíssima senhora já defrutara dos melhores sabores do mundo! Então disse:
- Gostei! O paladar é estranho e o sabor diferente de tudo que já provei. Mas é muito bom. Parabéns pela iguaria, Zacarias.
-Mas diga-me.
- O que é que vou jantar esta noite?
-
Dedicado a uma mulher especialmente saborosa: V. A.