A ASSUSTADA

Genoveva acordou disposta aquela manhã. O sol estava brilhando, e o vento batia suave. E ela resolveu ir caminhando para o trabalho.

Calçou seus tamancos altos e pesados, que estavam no auge da moda, uma saia no joelho, uma blusinha bordada de manga, e por fora, um casaquinho de mangas curtas, o ideal para aquele clima.

Devidamente trajada, maquilada e penteada, ela pegou a bolsa, e foi em direção da rua.

Carregando sua grande bolsa com tudo que se possa imaginar, e muito mais, ela saiu alegre e sorridente pelas ruas, ainda, um pouco desertas, devido a hora.

A cada passo que dava, ela sentia um peso nas pernas, algo que a puxava e a puxava para baixo, como se tivesse carregando chumbo nos pés.

Mas, sempre confiante, continuou o seu caminho sem preocupações.

De repente, ela ouviu uma voz gritando, e olhou para trás.

Viu então, um homem alto, forte, com aspecto desleixado, barba por fazer, trajando uma calça caqui muito manchada; uma camisa azul de tecido, encardida e com alguns botões abertos; botas pretas de borracha e um capacete branco, gritando e indo em direção a ela.

Mais do que ligeiro, Genoveva apressou o passo, e tentou ir mais rápido, mas quanto mais ela corria, mas os tamancos, pareciam pesar, o que foi lhe dando uma agonia cada vez maior.

E ela só pensava em pedir a Deus que lhe protegesse de qualquer mal.

Até que o homem conseguiu chegar perto dela, e antes que ele falasse, ela foi logo gritando:

- Olha, se o senhor chegar mais perto de mim, eu vou gritar, e lhe dá uma tamancada, pois estes tamancos são de madeira boa, e capazes de fazer uma desgraça.

O homem a olhou assustadamente, arregalando bem os olhos, e falou então com uma voz grossa e tenebrosa, mas pausadamente:

- Senhora, quero só que saia do piche. Estamos fazendo esse asfalto, e o material ainda está fresco, por isso, está grudando nos seus tamancos, que penso eu, não terão recuperação.

E olhou para os tamancos de Genoveva.

Ela muito desconfiada, também, baixou a cabeça e deu aquela olhada para o calçado. E viu que os mesmos estavam completamente pretos de piche, e com uma vasta camada do material.

Um pouco sem jeito, ela saiu do asfalto, tirou os tamancos, pediu desculpas bem desconfiada, e tomou o rumo de casa, descalça, para colocar outro par de sapatos.

O homem nada mais falou, apenas ficou olhando para a mesma, e com muita vontade de rir da confusão.

Noélia Alves Nobre
Enviado por Noélia Alves Nobre em 10/12/2018
Código do texto: T6523762
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