Sheik
 
Nordestino brabo, machista, teimoso. Argemiro era taurino, conservador, filho de família grande e ele mesmo estava no oitavo filho. Havia em comum na sua família a tradição de se colocar nomes nos filhos começados com a letra A, desde o seu bisavô, o velho e saudoso patriarca Argemiro Barreto de Moura. Assim, o Argemiro, neto, mantinha a tradição. Ele mesmo já batizara sete filho: Adelaide, Alzira, Anastácia e quatro homens Argemiro (seu filho mais velho), Agenor, Adolfo e Alcebíades. Seus 14 tios e tias mantiveram a tradição. Eram nomes todos começados por A: Amália, Alda, Analu, Ariene, Angelita , Áurea, Adauto, Adamastor, Ademar, Aderbal, Adnei, Adolfo...
Mas em poucos dias estaria nascendo o caçula do Argemiro e a mulher dele foi logo avisando: nosso caçula vai ter o nome do meu pai Emerson.
O patriarca, seu esposo, disse não! Aqui em casa nossos filhos têm nome com a letra A. É uma tradição de família... Meus tios, meus irmãos todos seguiram a linha iniciada pelo meu bisavô Argemiro e não sou eu que vou quebrar isso... E o casal quebrou o maior pau. Não era a primeira vez que dona Eloídes tentava homenagear o seu pai, em vão. Mas agora que ele falecera ela decidiu fazer pé firme. Enfática e decidida ela foi firme. Argemiro, não abro mão. Nosso neném vai se chamar Emerson e ponto final... Foi quase uma semana de discussões... Mas ,finalmente, concordaram numa solução esquisita mas que deixou os dois realizados. O bebê se chamaria Aemerson. Assim foi registrado em cartório! O bebê nem imaginaria quão complicado seria aquele nome e a necessidade dele repetir mil vezes esta estória. É claro que desde cedo ganhou um apelido que nada tinha com o nome: sheik. Graças ao nome do ex-jogador de futebol, Marcio Passos de Albuquerque, também, curiosamente, mais conhecido como Emerson Sheik. Coisas da vida.