O casamento do matuto

Cena 1

Bêbado( no meio da rua) - "bulida", rasgada, esfolada, eu sei, eu vi (risos) ai, papai ( toma um gole).

Gay (passando na hora)Epa!!! Morta, morta, morta!!! Como é que você sabe se eu nunca coisei com você!

Bêbado (um olho aberto, outro fechado. Agarrado com a garrafa) Ai, Jurema, minha Jurema! É só beber que o cão aparece... Sai pra lá lacraia! (Música)

Gay(rodando a baiana) Epa, lacraia não! Eu sou Amyhouse!

Soldados (entra apitando) teje preso, bêbado baú, tudo que sabe, sai rasgando! Já tem uma filha enorme de mulher, mais de dois quarteirão, todas com medo do que você anda dizendo!

Bebado: E é? Taí, Jurema, e eu num disse nem nada ainda!

Soldado: Nem vai dizer! O que tem de Coronel querendo sua cabeça pelo que você anda dizendo!

Beatas: (com a música asa branca)

Quando vejo esse bêbado

Fico logo arrepiada

A língua dele é uma navalha

Me valha Deus, De ficar falada!

Me valha Deus, de ficar falada.

Padre:(cantando)

Pois deixe de assanhamento

Suas beatas depravadas

Mache logo, lá pra igreja

Quero as ceroulas todas engomadas!

Marche logo lá pra igreja,

quero as ceroulas todas engomadas!

Bebado: (cantando)

Eu bebo e quem fica bêbado

Esse povo de oração

Vou dá mais uma bicada nela

Nessa cachaça de perdição...

Do outro lado

Mãe (com uma tampa na mão) marche pra casa, fio de égua, olhe o sereno!

Noivo: (dengoso) Oxe, mainha, já tomei xarope, num gripo não!

Mãe: mãe é que sabe! Cê tá aí com peito cheio de catarro, o pulmão xiando, a testa quente, os beiços trimilicando..

Noivo: Bem que eu queria morar com painho! Ele num tem frescura não!

Mãe: Aquele traste? Bêbado de uma figa? (Chorosa) Pois vá, Captriciano Diazepanol Dequalhadazevedo segundo!

Noivo: Armaria, mainha, quando a senhora rebola esse nome em cima de mim, parece que um meteoro foi sapecado nas minhas zureias! Sou apenas Ciano Dia...

Noiva: (entra correndo acompanhada dos pais) Foi ele, foi ele, painho! Foi ele que se aproveitou de minha inocência, me puxou lá pros lado do mato fechado e...

Mãe da noiva: figa pé de pote, sangue de avestruz qualhado, já tou inte sentindo o tamanho do estrago!

Coronel: Como? Essa mosca morta? Esse projeto de mosquito? Com essas sobrancelhas feitas e as mãos desmunhecada?

Noiva: Cê que pensa painho!

Mãe: Num fale assim do meu fio não, seu coroné de barba de bode!

Noivo: Eu?! O que eu fiz?

Noiva: Então tu não lembra que a gente foi caminhado, tudo escurecendo, a gente pisando no barro, eu agarrada a tu e tu enterrando, enterrando, enterrando e eu aperreada e quando penso que não, já taba toda atoladinha?

Mãe: E foi?! Pois pode marcar o casório! Se ele ofendeu sua filha, ele vai arreparar o mal feito!

Noivo: Eu?!

Gay: Protesto! Antes dele fazer isso com ela, já tinha feito comigo! E minha honra? Minha honra né bagunça não!!!

Bebado: vamo deixar de frescura que o tempo tá passando, eu quero é festa! Festa tem comida e tem bebida!

Noiva: Se ele quiser, eu caso agora! Pode chamar o padre!

Coronel: Vai casar, por bem ou por mal!!!

Noivo: Eu?! E agora? Quem poderá me ajudar?

Beatas: Sei não, acho essa história muito mal contada.

Beata2: Sei não, eu num digo é nada!

Beata3: Sei não, só eu que não tenho sorte de vasculhar minhas teias de aranha!!!

Padre: Pare de fuxicos suas! Vou já pegar um cabo, enviar nas vassouras de vocês e obrigar que varram até ficarem cansadas!

Coronel: E a honra de minha filha, como é que fica?!

Mãe da noiva: É, minha filhinha, tão ingênua foi toda atolada, deflorada, invadida (começa a tremer a carne).

Gay: Não aceito! Se ele é obrigado a reparar a honra dela, então vamos tirar no ímpar ou par!

Noiva: De jeito nenhum! Meu Ciano não tem jogo, ele é o homem mais gostoso do mundo, só meu!

Padre: Baixe o facho, assanhada! Deixe o rapaz se pronunciar!

Mãe: tem o que dizer não, fez, vai reparar o erro.

Noivo: Mas mainha, eu...

Mãe: Cale a boca, sou sua mãe, sei o que é melhor para você.

Bebado: Eu vi, eu sei... Bulida, rasgada, esfolada, lá nas capoeiras!

Noiva: Não diga mais nada, seu bêbado! Assim você me deixa encabulada!

Beatas: agora né, mas na hora de ceder as carnes, nem pensou em nada!

Gay: morta, morta, morta...

Mãe da noiva: água, água, água, tou pegando fogo, vou incendiar!!!

Bebado: Se quiser meter a boca na Jurema e dá uma... golada, eu deixo. (Ela bebe)

Coronel: Que é isso mulher, comporte-se!

Mãe do noivo: É assim, Coronel, a mulher não tem mais nada em casa, quando procura o relógio pra ver a hora tá lá marcando seis horas, o ponteiro roncando...

Beatas: (gritam quando ver o gay colocando o noivo em um carro de mão e levando-o) Chega, chega que o noivo está sendo levado!

Coronel: Polícia, Polícia, a honra de minha filha!!!

Bebado: (olhando para a entrada dos guardas com o delegado) Foi ele, foi ele, eu vi com esses olhos que a terra há de comer!

Delegado: Viu o que, bêbado safado!

Padre: Você? Um homem casado?

Delegado: Era, mas não sou mais! Desde que eu vi essa formosura que meu coração por te gela!!!

Coronel: Não, não pode ser! E sua mulher?

Delegado: Fugiu com o desamunhecado levado por aquele gay! Foi tudo combinado, o danado fingiu de molenga para não ser molestado, tava era comendo pelas beiradas as carnes daquela maldade!

Coronel: Então, célebre o casamento, padre!!!

Padre: já está celebrado, eu declaro que o forró será começado!!!