O Homem Desassombrado

- Rui, meu querido irmão mais novo, acredite em mim. Não existe assombração, nem essa coisa de alma vagando por aí. Não revenda essa casa que acabou de comprar ao lado do cemitério. Isso que você teve foi um pesadelo. Mora sozinho e dormiu impressionado. Foi só isso...!

- Não, Zé. Não fico com essa casa de jeito nenhum. Eu vi e ouvi. É de madrugada que aquele vulto fica passeando e sapateando lá dentro.

- Rui...! Vamos fazer assim. Eu durmo lá uma noite e se tiver fantasma eu afugento. Vai dormir na casa da Tia Lara. Se o telefone tocar... lá pela madrugada, pegue-o e fique escutando como é que se exorciza um lugar. Mas, claro que estou brincando. O telefone vai ficar lá quietinho. Você vai ver.

........... (Acordo fechado. Então o Rui deixou as chaves com o Zé e na próxima noite foi dormir na casa da tia, no quarto de visitas que tinha telefone. O telefone tocou pelas 2h da madrugada. O Rui atendeu e ficou apavorado com os gritos que passou a escutar através do aparelho).

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- Quem está aí...? Nãããoo! Você é quem? Suma daqui...! Vai chamar quem? Nãããoo! Deixa eu sair!

............. (Depois de uns minutos, o Rui não conseguiu mais escutar qualquer voz ou ruído porque a linha telefônica pareceu ter sido desligada. Discava no número e dava ocupado. Felizmente, na manhã seguinte o Zé apareceu e parecia bem, mas com semblante muito sério.)

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- Rui, meu querido irmão, deu tudo certo. Foi tão bom que eu queria que você revendesse a casa para mim.

- Deixa de mentira, Zé...! Eu escutei teus gritos. Você estava apavorado! Eu só não chamei a polícia porque ela não ia encontrar você lá, que já estaria longe na velocidade que deve ter corrido. A casa é assombrada, sim. Mas... se quiser eu te vendo mesmo. Fica logo com a chave.

- Rui, deixa eu explicar. Eu realmente gritei muito no começo. Mas, depois do vulto que você já tinha visto antes, apareceu uma fantasminha tão linda, fofinha, toda sinuosa... num baita vestido branco transparente igualzinho ela mesma...! Rui, por favor, me vende essa casa...! É minha, né?

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Moral da história (estória) ------- Fantasma sem teto não existe.