ATAQUE DE IDOSOS

O final de ano deixou-me traumatizado, assustado, amedrontado, aterrorizado, estarrecido, apavorado, temeroso, preocupado, desnorteado.

Hospedei-me num hotel de público predominantemente septuagenário.

À princípio senti-me um jovem, sentimento logo trocado pelos adjetivos “retrô-descritos”.

Bastava abrir-se o elevador, no horário do café da manhã, para sermos atacados pela horda bárbara. Vinham aos tropeços e tropicões. Algumas muletas erguidas, em sinal de guerra. Outros acelerando as cadeiras de roda.

Ameaçadores, uns vestiam camisas de clubes de futebol para demarcar seu posicionamento geopolítico. Havia um grupo de camisas vermelhas estreladas no peito.

Prestando melhor atenção, notei serem os mesmos do ano passado. Um ano mais velhos e ousados. Um tipo de black-bloc. Erguiam os braços com gritos de Ai! Ai! Ai! Ui! Ui! refletindo as tendinites, artrites e artroses. Conversavam assuntos banais e repetitivos, como o Toinzinho morreu, por isso não veio. O Zeca da Filó também. Ocorreu fato semelhante com a mãe do Gaguinho. AVC... Enfisema... Vixe! O Chiquin faz hemodiálise.

“É! Pois é! Estamos precisando de sangue novo”. Pensei fosse o Drácula, mas era apenas a constatação da presença vetusta de D.Severiana (também conhecida como Verinha Fogo Quente - nos áureos tempos dos bailes de carnaval).

Ufa! Sobrevivi, apesar de locutor sempre falar que a próxima música era de um cantor ou outro muito anterior ao meu tempo. Vovó deve tê-lo conhecido.

Enfim! Havendo coragem e não advindo a indesejada visita da Morte, espero ver o ataque de idosos novamente ao final do ano ZOZÓ, como referiu-se um senil, no limite do humor ou da demência, aos desejar-me um Feliz 2020 .

“E la nave vá!” E lá vamos nela!