As aventuras de Tonico _2_É o Costume do Cachimbo...

“É o costume do cachimbo que deixa a boca torta”, eis um sábio ditado popular que a minha mãe sempre repetia. E o repetia, com endereço certo: eu. Não há como negar: desde criança, tenho um estilo irreverente – mas que a minha mãe identificava como debochado – com um forte e quase incontrolável gosto pela pilhéria.

Observem que sou muito bem humorado, o que até atrai para mim boas companhias e muitas leituras no Recanto das Letras, já que erotismo, humor e amor, nessa ordem mesmo, são as categorias de textos mais preferidas pelos leitores, tanto que, no ranking dos meus textos, entre os cinco mais lidos, estão 4 textos de humor e um erótico. Contudo, há uma diferença entre bom humor e irreverência. E é aí que o bicho pega comigo.

Pois faço piadas sobre qualquer coisa e rapidamente, o que tem me valido algumas situações constrangedoras e algumas amizades femininas precoce e desnecessariamente interrompidas.

Com essa história do “Relaxe e goze”, da Marta Suplicy, ah, meu Deus, tenho aporrinhado muita boa amiga!

Agora mesmo, não por causa do “Relaxe e goze”, mas por uma piadinha quase chula, uma boa e querida amiga me meteu o cacete - no bom sentido, é claro - ops, já estou sendo irreverente, que coisa! Como é uma mulher muito inteligente e séria, e de alto nível sócio-econômico, certamente que não estaria a papear comigo pela Internet se não me prezasse como um bom amigo; mas, de vez em quando, ela, de temperamento forte, sai do sério comigo, por causa das minhas pilhéricas provocações. De mim, saem como um jato, como uma risadinha, mas ela as recebe com irritação, ofendida no seu pudor feminino.

O mais interessante é que ela, essa minha boa e querida amiga, a respeito do meu quefazer poético, identifica muitíssimos pontos em comum entre mim e o Mário Quintana, do qual é ardorosa fã. Entretanto, é sabido que o Quintana era um irreverente de carteirinha e não perdia uma boa piada, especialmente com mulheres! Ah, mas, aos gênios, tudo se perdoa!

Uma outra boa e querida amiga, mais espiritualizada e mais tolerante, suave como uma pluma, dá, de vez em quando, uns sorrisinhos amarelos diante das minhas debochadas sacadas. Como é que sei que são sorrisos amarelos, se não a estou olhando, do outro lado? Porque ela é calmíssima e mansa como um riacho correndo pelas veredas, ao fim da tarde. Sem temperamento para me dar uma bronca, acredito que sorri sem graça; não é esse o famoso “sorriso amarelo”?

Mas, realmente, se eu já tivesse tomado vergonha na cara, não estaria passando por tais vexames. Teria aprendido com este grande mico que paguei, em 1985.

Com 44 anos, divorciado já duas vezes, eu dava aulas num colégio da rede particular, em São Luís. Não obstante o meu jeito, sempre amalucado e irreverente, muito chegado a uma safadeza com um rabo de saia, eu sempre me senti atraído por mulheres sérias e bem comportadas. Como quase todo homem, acredito eu. É aquela velha história: “brasileiro é sueco com a mulher dos outros”, em outras palavras, para transar e cair fora, serve uma vadia esperta, mas, para casar, de preferência que seja zerada em matéria de homens.

Então, continuando: dava aulas nesse colégio uma professora de 40 anos, bonita, mas de aspecto sério e reservado. Era uma evangélica praticante, fervorosa mesmo. Eu tinha fama de professor-cachaceiro e freqüentador habitual de puteiros, mas fui arrastando as minhas asas para ela devagarinho, um papinho aqui, outro ali, um galanteio aqui, outro acolá, até que, em determinado dia, num intervalo entre as aulas, manifestei claramente o meu interesse por ela; a fortaleza cedeu e marcamos um encontro para depois das aulas, que terminavam às 18:30.

Mas, nesse mesmo dia – maldita seja a minha safada e incontrolável língua! – dei uma tremenda mancada. Num dos intervalos entre as aulas, passei pela sala dos professores e lá estavam a minha futura-quase-namorada e duas colegas. De repente, lembrando-me de um cartoom-piada do Ziraldo, atacou-me um surto de "gaiatice de menino de calças curtas" e, sem pensar duas vezes, soltei:

- Meninas, vocês sabem o que disse Jesus para a Madalena, do alto da cruz?

Ninguém respondeu, mas eu fui em frente:

- Hoje, não, Madalena! Tô pregado...

Todas permaneceram sisudas, mas a minha futura-quase-namorada ficou vermelha como um tomate. Tendo percebido que a minha piada fora de muito mau gosto - até porque ninguém riu - saí de fininho e esperei a hora do encontro marcado para pedir desculpas.

Fiquei na porta do colégio, esperando pela professora. Ela saiu, olhou-me como se olha um repugnante batráquio, passou por mim de cara fechada e nunca mais falou comigo.

Não perdi a piada, mas perdi a quase-namorada...

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 13/10/2007
Reeditado em 22/03/2011
Código do texto: T692349
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