Susto na noite

Essa noite acordei assustado, ouvindo gritos, reclamação, chororô e alguns sons de queda. Eram minhas camisas, calças, alguns blazer, reclamando que nunca mais saíram do guarda roupa, não levaram nem um solzinho.

As gravatas coitadas, todas "caíram" de moda.

Tinha roupa esbravejando porque nunca mais tinham tomado um banhozinho na piscina da máquina de lavar. Os calções já nem se lembravam o que era praia. Tive dificuldades em fechar a porta do closet pois todos queriam sair. A camisa social de linho, apontou para os calções de poliéster e soltou: ele só quer saber desses aí, cada dia com um, lavando e usando. O casaco de frio refutou: vcs estão reclamando de barriga cheia, a última vez que saí foi no São João de Caruaru, há três anos.

O blazer tristonho falou: nem festa de formatura ou casamento tem mais e prá enterro não quero ir não, pois o caixão é lacrado e ninguém vê a gente.

Ainda bem, não é desejo dele.

Voltei pra cama preocupado em que estágio da quarentena estava.

Massilon Gomes
Enviado por Massilon Gomes em 09/06/2020
Reeditado em 09/06/2020
Código do texto: T6972730
Classificação de conteúdo: seguro