RECEITA DE BABA AO RUM

Essa é uma sobremesa sofisticada, servida nos bons e chiques restaurantes freqüentados pela classe alta. Não me perguntem exatamente quantos metros ela tem. Isso não vem ao caso. O que importa, a essas alturas, são os ingredientes que serão utilizados, e não o poder de compra de quem vai consumir. Até mesmo porque a classe alta nem sempre é esbelta. E não é esbelta exatamente por consumir sobremesas como essa. Deliciosas, mas não saudáveis. Mas isso também não vem ao caso, senão a receita não sai do papel, não vai para a panela e muito menos para a sua boca. Retomemos, então. O primeiro detalhe refere-se à qualidade do rum a ser utilizado, que precisa ter procedência. Muito cuidado com as falsificações, pois as boas marcas são as mais visadas pelas quadrilhas contemporâneas. Portanto, acautele-se. Se possível, associe-se a um “conaisseur”, de maneira a garantir a legitimidade da bebida. Quanto ao segundo ingrediente, ou seja, a “baba”, os cuidados também precisam ser redobrados, já que existem muitas variedades de baba. E isso poderá ser realmente uma baba, isto é, bem fácil de levá-lo à obtenção de uma baba não recomendável. Basta olhar à sua volta e verá milhares de pessoas “babando de inveja”, “babando de ódio” ou “babando de desejos”. Então você deverá ter muito cuidado para não pegar a baba errada. Aconselha-se, no legítimo “BABA AO RUM”, que se utilize a “baba de moça”. Em Minas, aconteceram algumas experiências culinárias com a “baba do quiabo”, todas fracassadas, pois os cozinheiros levaram vários tombos, literalmente “escorregando no quiabo”. Então, cuidado, deixemos o quiabo de lado e voltemos à baba de moça. Reza a tradição que a baba de moça tem que ser virgem. Noutras palavras, se a moça for virgem, a baba também o será. Melhor ainda se você fizer a coleta da baba de moça virgem em noite de lua cheia, um pote razoavelmente cheio, não precisando transbordar. Use a sua criatividade, puxe pela imaginação, pois nessa fase da receita o grande problema é você ficar babando ao ver uma bela virgem ao luar. Talvez apenas por um instinto natural de preservação da espécie, nada mais que isso. Bem, a essas alturas você já deverá ter os dois ingredientes básicos: um bom rum e uma razoável quantidade de baba virgem de moça idem. Não cometa o erro de oferecer rum à virgem, pois isso poderá desandar a receita, você sabe muito bem a razão. Agora, vem a verdadeira alquimia: a hora de juntar a baba ao rum. O rum, diferentemente do azeite e da água, mistura-se à baba. Assim sendo, junta-se ambos numa panela e deita-se o açúcar, a gosto. Leva-se ao fogo brando e mexe-se com uma colher de pau durante o tempo necessário, variando de pessoa para pessoa. Serve-se morna, à luz de velas. Quem experimentou, dizem, até hoje tem nos olhos um brilho diferente. E na boca um sabor indecifrável de sabe-se-lá-o-quê, mas com um gostinho permanente de quero mais. Afinal, não são todos os dias da vida que a gente bebe os segredos de uma virgem, regados de rum e luar. Ah, sim, mas têm os que comem e depois ficam... babando!!!

PS: Essa é a versão da receita masculina... Acatando a sugestão de uma poetisa, para agradar as mulheres, recomenda-se a coleta da baba de um "belo jovem mancebo", tendo-se o cuidade de preparar a receita numa panela em separado, para não contaminar a virgem...

Observação: Existe mesmo uma sobremesa com esse nome, mas eu não sei absolutamente como é que se faz. Se você souber...

José de Castro
Enviado por José de Castro em 18/10/2007
Reeditado em 18/10/2007
Código do texto: T699630
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