Um emprego para o bicho preguiça
Tentamos arrumar um emprego para o bicho preguiça do meu quintal
Me irritava vê-lo alí pendurado, tão parado, não me pareceu legal
- “Carteiro?” – foi a minha primeira sugestão e vã tentativa
- “Não vai dar certo”, disse ela, vai ter gente esperando em vão pela missiva
E o bichinho ficava alí sem fazer nada e só pensava em comer
Olhava meio desconfiado como se adivinhasse que teria algo a fazer
Ele detestava trabalhar e até subir na árvore era um sacrifício
Qualquer movimento brusco, ele se estressava, um suplício
- Bombeiro? Arriscou ela, sem saber que falava besteira
A casa certamente iria torrar antes que ele chegasse com a mangueira
Os moradores iriam trucidá-lo com tanta lerdeza, tanta demora
Iriam chutá-lo e colocá-lo porta afora
Eles são fofos, olhar terno, de grande coração
Mas não têm culpa de ter no máximo 2 ou 3 dedos em cada mão
Não fazem nada para a sociedade a não ser deixar uma criança amando
Pelo carinho, pela calma e no abraço que dá ao galho quando se apoiando
Quem sabe ele pode ser “maquinista”, disse ela, meio repentino
- Um ser calmo demais demoraria dias para levar alguém ao destino
Quase sem muitas opções de como fazer o bicho trabalhar
Nos pusemos a fazer uma lista para a solução encontrar
Olhando-o de longe, notamos que ele tem movimento lento
Gosta de ar fresco, lugares silenciosos, um pouco de vento
Tem longas garras para se segurar no seu galho preferido
"Fazer nada" é o seu melhor passatempo, não faz um ruido
Mas eu ainda, não me dando por vencido
Tentei o último “emprego” ou algo parecido
- “Dentista”- arrisquei, com um sorriso meio amarelo
- Queres ficar sem dente, um homem banguelo?
Gargalhamos quando caímos em si, e concluímos o lógico:
Ele não nasceu para trabalhar, nasceu para o ZOOLÓGICO!
Inspirado, é claro, na obra do poeta e crítico literário JOSÉ PAULO PAES