Ferreirinha, O Cágado e a Cagada

O Ferreirinha só pode ter parte com o cão, eu não sei como é que ele já me aprontou todas, que podia e que não podia e eu ainda insisto na amizade com ele.

Terminei um relacionamento que não me satisfazia, porque sexo é uma troca de prazer, não uma satisfação meramente pessoal ou um favor que se faça a alguém, a não ser que esse favor tenha algum tipo de remuneração e como não sou puta, tampouco proxeneta, nunca cobrei nem paguei pra fazer o que gosto, achei melhor partir pra outra e ser feliz.

Nessa minha mudança de vida, resolvi exercitar o meu lado poeta e compositor, prometi a mim mesmo que só ia fazer na vida aquilo que me satisfazia no âmbito pessoal ou seja beber cachaça e aprender a tocar violão, caí na boemia e ainda por cima tive o total apoio do Ferreirinha, que nunca ficara satisfeito com meu relacionamento.

Comecei a escrever poesias, letras de músicas e até a fazer melodias, não acreditava ser bom, mas comecei a fazer amigos ligados a música e estes começaram a elogiar meu trabalho, comecei a fazer composições em parceria com muito deles, só então comecei a acreditar que era compositor e nessa tribo de artistas, uma amizade leva a outra então comecei a me ver rodeado das pessoas que fazem e gostam de música, eram poetas, compositores, cantores e até mesmo meros admiradores. A gente sempre se reunia vez por outra na casa de um ou no apartamento de outro pra curtir e tocar boa música, além é claro, tomarmos todas.

Estava saindo de casa pra uma dessas noitadas, eis que me aparece o Ferreirinha, como fazia tempo que não nós víamos, resolvi levar ele comigo. Pedi pelo amor de Deus pra ele se comportar e não botar boneco porque senão, seria a última vez que ele sairia comigo. Ele perguntou se eu estava estranhando ele. Respondi que estava pedindo exatamente por que o conhecia. Falei que estávamos indo ao apartamento do Dagno Moreira, lá de Tabuleiro, ele disse; Claudo o Dagno é meu amigo, conheço ele desde o tempo que era Benedito, inclusive já fechamos muito bar juntos. Respondi que mesmo assim ele estava recebendo uns amigos e era melhor não colocar ele em constrangimento. (Como se o Ferreirinha se importasse com isso!!!).

Chegamos, Dagno abriu a porta, quando viu o Ferreirinha, se abriu numa gargalhada, deu um abraço nele e disse me olhando; Claudo que surpresa boa que você me trás, tava com saudades desse cabra e de nossos bonecos. Ferreirinha olha pra mim com grande satisfação.

Entramos, Klinger estava como sempre, tocando João Bosco, Nara o acompanhava nos vocais, Hugonilson tava disputando um litro de cachaça com Chicão, Charles e Everton assediando uma garota que eu nunca tinha visto.

Dagno nós leva até a cozinha e mostra a geladeira e as panelas, diz pra gente ficar a vontade, pego uma cerveja e Ferreirinha uma dose de cachaça, voltamos pra sala pra curtir a festa. Logo senti falta do Ferreirinha, mas naquele movimento de entra e sai, não dei muita importância, curti a festa, o pessoal, o porre e acordei sentado na varanda com o Dagno me chamando pra tomar café. Perguntei pelo Ferreirinha e o Dagno disse que ele falou que tava se sentindo meio deslocado e quis ir embora, que insistiu pra ele ficar, mas ele não quis e acabou pagando um táxi pra ir deixar ele em casa. Falei que não parecia o Ferreirinha que conheço, Parecia mais um bicho que tinha saído do mato e o mato não tinha saído dele. Terminei o café, me despedi e voltei pra casa. Cheguei, fui pro meu quarto e encontrei Ferreirinha dormindo feito um porco na minha rede. Armei uma rede na sala e fiquei assistindo televisão. Meio dia mamãe me chama pra almoçar, encontrei Ferreirinha já sentado na mesa com um prato que parecia uma montanha, só Dona Gercina sabia acomodar tanta comida em um. Perguntei como ele estava, ele respondeu que agora tava tudo bem, pede desculpas e diz; Claudo, vim embora porque não queria estragar sua noite, pois você estava tão alegre, mas alguma coisa que comi não me fez bem. Então falei; Ferreirinha lá tem banheiro. Ele respondeu; Sim, mas tinham que avisar praguele casalzim que se trancou nele, pois banheiro é pra cagar, mijar e tomar banho, outras coisas se faz no quarto. Inclusive por conta disso tentei fazer no quarto o que devia fazer no banheiro, mediante a situação era a única opção, fui lá e me acoquei, fiz força, pensei que tinha cagado pra mais de kilo, mas quando fui verificar não tinha nada, quase pirei procurando pra limpar e nada, só o fedor que achei ser psicológico. Depois disso achei que alguém tinha batizado minha bebida, então resolvi vir pra cá pra passar a lombra.

Passado uma semana, liguei pro Dagno, perguntei quando a gente ia fazer outro encontro daqueles e ele responde; Claudo, não farei mais reunião na minha casa, do pessoal que estava presente, só não desconfio do Ferreirinha que foi embora ainda no começo da putaria e você que ficou e tomou café da manhã comigo, como não sei dos outros quem de fato é meu amigo, não abro mais as portas pra eles. Perguntei o que tinha acontecido e ele responde; Você se lembra daquele cágado (tartaruga) que ganhei de pai quando criança? Respondi; Sim lembro, o que houve? Ele respondeu; Um desgraçado cagou em cima dele!!!

Claudo Ferreira
Enviado por Claudo Ferreira em 29/08/2020
Código do texto: T7049705
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