Perdão para dois...?

Jesus andou muito. Inicialmente pela Galileia, pela Cesareia, enfim, por toda a Judeia. Até que lhe ocorreu ainda melhor ideia: pela franja mediterrânea afora, Líbano, Síria, Turquia, Grécia, Croácia, Itália, França, Espanha, foi parar em Portugal...sempre pregando, curando e encantando...

A primeira cena que viu, logo que adentrou o país de Saramago, foi chocante: uma mulher, acusada de adultério, cercada por uma turba de machões, de pedras em punho prontos a lapidar a indefesa coitada.

Jesus, como lhe soía, e só ia, não hesitou, num alto brado tomou a palavra e num português mais castiço do que o de Camões, fez um duro sermão em nome do perdão... Enquanto falava, ouvia pedras caindo ao chão e lágrimas rolando na fauce dos plutarcos varões...uma comoção sem par...

Seu erro porém foi, ignorando o cartesianismo luso, buscar um arremate inapropriado, ao bradar:

- E agora, aquele que nunca errou, que atire a primeira pedra...!

E mal terminava a sentença, justamente de seu lado partiu um violento e certeiro arremesso que ao chocar-se com a cabeça da infeliz partiu-a ao meio, prostrando-a por terra, já inerte e sem vida...

Jesus olhou para o lado, fuzilando de raiva o perpetrador do golpe e o indagou, severamente:

- O senhor vai me dizer que nunca errou...?

Ao que veio-lhe uma resposta firme, segura:

- Dexta dixtância, jamais, Mextre...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 08/12/2020
Código do texto: T7131010
Classificação de conteúdo: seguro