Vício

"Todo mundo tem um vício", ela me dissera outro dia.

"Eu não tenho nenhum", retruquei imediatamente, como quem está no "bate bola" de perguntas e respostas da Marília Gabriela.

(Pausa dramática para a chuva de neurônios trabalharem a fim de achar meu suposto vício.). (Enquanto isso eu realizava expressões faciais e mexia minhas mãos em conotação de procura.). (E fui pros mais clássicos, inicialmente).

"Não gosto de jogar vídeo-game, nem de beber, nem de fumar, nem de assistir série compulsivamente. Não sei, não tem nada que eu ache que sou verdadeiramente viciada."

- Pois pode procurar que você tem um, sim. É comum quem é viciade em algo não admitir.

- Tá certo, então se todo mundo tem um, acho que o meu é tomar banho. (Viu só? Não consegui sustentar minha tese inicial).

- Só se for vício em não tomar banho, né?!

- Oxe, eu tomo sim, e adoro, só não sinto a vibe de tomar todos os dias. Sabe, questão de preservação do meio ambiente e economia de energia física. Além do mais, tenho dado mais valor a um banho bem tomado. Ao passar um dia sem tomá-lo, no dia seguinte eu sinto um aconchego tão gostosinho em baixo do chuveiro e ao me ensaboar, cuidar do meu corpo. Sabe, é uma sensaçãozinha muito prazerosa. Muitas vezes a gente realiza tanto um hábito cotidiano que se torna robotizado e sem reflexão alguma. Eu quero mais, mais que isso para mim. Tenho sede de sentir saudade e depois poder tê-lo comigo e apreciar todas as suas instâncias. Cada toque de pingo d'água em minha pele, cada escoar de sujeira pelo ralo, cada cheiro que sai e cada cheiro que ganho e fica em mim.

- Ah, tá. Agora deu mesmo! E a questão da higiene nos dias "sem vibe" deixa de lado, né?!

- Bom, não sinto fedor e constantemente passo perfume, desodorante e lenços umedecidos.

- Nossa, tenha vergonha...

- Que nada, isso não é nada pelo qual eu sinta vergonha. Tô muito de boa. Tá vendo?, até nisso eu não sou viciada, hahaha.

- PRÓXIMO!

- Eita, somos nós.