COISAS BOAS LEVAM TEMPO...
 
           Grupo em rede social é uma coisa complicada. A começar pelo fato de que existem algumas regras de educação e da boa ética no mundo virtual, que muitos parecem não conhecer ou, simplesmente, não observam mesmo, no que diz respeito a não importunar os amigos e conhecidos, com coisas que podem não interessar a eles.

            Há, basicamente, três motivos pelos quais o frequentador do ambiente virtual acaba sendo inserido em algum grupo desta ou daquela rede social. O primeiro é porque alguém o convidou e ele aceitou o convite para participar. O segundo, porque ele mesmo solicitou a sua admissão e foi aceito pelo administrador ou administradores do grupo. Ou então — e esta é a pior hipótese — porque algum conhecido “sem noção” formou um grupo e o incluiu, sem consulta-lo ou, sequer, saber se ele tinha um mínimo interesse em participar daquilo.

            Neste último caso, a plataforma onde mais acontece essa inserção involuntária das pessoas, talvez pela facilidade operacional de comunicação entre seus membros, é o WhatsApp. E lá existem milhões de grupos, por todo e qualquer motivo que se possa pensar: grupos de amigos, de ex-alunos desse ou daquele colégio e faculdade, dos colegas ou ex-colegas de trabalho, de pessoas que viajaram juntas em alguma excursão, dos condôminos de um edifício, das senhoras e senhores que frequentam a mesma aula de hidroginástica, da turma do futebol aos finais de semana, além daqueles formados por irmãos, primos ou pelas famílias, em sentido mais amplo.

            Pois é justamente aí que a coisa “pega”! Porque muitos dos que são incluídos involuntariamente nesses grupos, não estão nem um pouco interessados nesse contato constante, diário, sob a forma de piadas, memes, divulgação das glórias pessoais de alguns ou manifestações políticas, que fogem aos propósitos daquilo de quem teve a ideia de reunir a turma virtualmente e incluiu todo mundo, sem consultar ninguém.

            Isso, para não falar naqueles participantes pouco ou nada sutis, que despejam pornografia no espaço, sem a menor preocupação com as tias idosas e beatas, que terão acesso àquela baixaria. Ou naqueles outros, que publicam frases e pensamentos que consideram profundos e importantes, mas não têm o menor interesse no que os outros publicaram antes ou que publicarão na sequência da sua postagem. Ou seja: querem ser lidos e esperam ser seguidos nas redes sociais, mas não comentam, não curtem e nem mesmo leem absolutamente nada do que os demais membros produzem naquela espécie de “mural virtual”.

            Foi por causa disso que, há poucos dias,  eu me defrontei no Whatsapp com uma situação absolutamente inusitada. Algo que, apesar de seu lado triste e lamentável, acabou causando em mim um desses acessos de riso que, mesmo diante das situações mais cabulosas, não conseguimos conter.

            Num desses grupos de família, formado por primos de vários graus, em que cada um postava as coisas do seu interesse, a maioria das quais sem qualquer conexão com o que postavam os demais ou com as questões de família — que deveriam ser o objeto do grupo — alguém publicou uma mensagem de pesar, dizendo mais ou menos o seguinte: “Comunico a todos que nesta manhã, depois de uma prolongada doença, faleceu o tio Rildo”.

            Logo em seguida, outro parente fez lá a sua postagem, em letras garrafais, de um “pensamento do dia”, como fazia habitualmente — e nisto se resume a sua participação naquele grupo de Whatsapp — pelo que pude observar, verificando o seu histórico de publicações: “COISAS BOAS LEVAM TEMPO PARA ACONTECER!”.

            Tenho por certo que não prestou atenção à publicação anterior. Ou então, o tal tio Rildo, assim como o Tio Patinhas, não era nada benquisto na sua família!

Ilustração: Google Imagens