Anti-biótico...anedótico

O link que segue remete a um texto escrito há alguns anos sobre meu Professor de Inglês no Ginásio Estadual de Pitangui, na primeira metade dos anos de 1960, o saudoso Doutor Waldemar Campos...

https://www.recantodasletras.com.br/biografias/5370299

Complementando, e mais uma vez lhe reverenciando a memória, o douto Waldemar possuía um refinado senso de humor - americano, vale ressaltar... - e volta e meia nos brindava com alguma de suas anedotas, certamente mais inteligíveis do que suas manuscritas receitas...:

..."Duma feita um viajante chegou a cavalo numa pequena cidade e se hospedou no andar superior de uma singela, porém bastante acolhedora pensão.

O dono do estabelecimento, muito simpático, por sinal, sem lhe pedir cartão de crédito ou cpf, ou informação que remetesse a definição de ideologia, de gênero, ou de religião, ao vê-lo de robustas botas de couro, apenas advertiu-o sobre o hóspede que ocupava justamente o quarto inferior ao seu, que era assoalhado, e portanto, mais propício à propagação de ruídos...O referido hóspede, um americano, pesquisador de minerais, de uma indeterminada CIA, era bastante irritadiço em razão da leveza extrema de seu sono...

O recém-chegado fez-se de rogado: ouviu atentamente o estalajadeiro, e com um recomendação sobre onde jantar, botou seu chapéu, saiu assoviando algo como "Vai cair..."...que anos mais tarde Raul Seixas iria descobrir...compor, e luzir...

E a janta, assim como a prosa, foi pra lá de boa, regada alternativamente de pinga ...e de cachaça...até que o sono veio, e o visitante rumou para a pensão...

Ao chegar ao seu quarto, no segundo piso, mal sentou-se na cama, puxou a bota direita e...inadvertidamente, deixou-a cair no piso, provocando retumbante ruído no assoalho...

No ato, ele se lembrou do pedido expresso que recebera do albergueiro e, tomado de sincero arrependimento - como alguém que receitou cloroquina para um paciente de covid... - tirou a bota esquerda com o maior cuidado e, bem na maciota, fê-la jazer sobre o assoalho, num silêncio sepulcral...e caiu no colchão só com meia mea culpa...já pingando de sono...

E não é que quando já ferrado nos braços de Morfeu, foi acordado com umas fortes batidas em sua porta...levantou-se, penosamente, e a abriu:

Era o hóspede do andar térreo que apenas lhe suplicou, num português bem inteligível, porém com um sotaque de amargar:

- Quando a senhor vai tirrar o segunda bota...parra eu poder voltar a dormir...?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 26/01/2021
Reeditado em 26/01/2021
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