O casamento
Certa vez no Reino da Petelandia o poderoso rei Dom Luís Inácio IX, chamou sua filha predileta Dilma Letta, filha de seu segundo casamento e com ar grávido disse: - Minha querida filhinha, vou te pedir uma coisa que pode não te agradar, mas preciso fazê-lo. Nosso reino está ameaçado pelo exército dos Bicudos. Como você sabe eles são devoradores de filhotes e isso podem ameaçar seriamente nossa fauna intestinal. Além disso, eles não gostam de pobres e como nosso reino se compõe basicamente de pobres, eles vão querer substituí-los todos por pessoas ricas e será o fim de tudo.
- Sim papai, pode falar. Por você sou capaz de ir apé, digo até as Minas dos Bicudos e enfrentá-lolos sóxinha, digo sójinha, quero dizer, sem ninguém me acompanhando. Você sabe como sou muito valenta!
- Eu sei filhinha. Ninguém nunca te conseguiu vencer nas batalhas com travesseiros. Sei também que você não gosta do príncipe Temer Hário e seu povo, devido ao estranho hábito que eles têm de ficar em cima dos muros. Mas precisamos unir nossos exércitos para enfrentar os Bicudos e o príncipe só concorda com isso se eu der sua mão para ele.
A pequena Dilma com ar apavorado retrucou fazendo beicinho – Papai, você seria capaz de cortar minha mãozinha?
O Rei com paciência a acalmou – O que é isso filhinha? Ele quer se casar com você!
- Ah bom! Que susto papai!
- Está chegando a hora da grande batalha, por isso precisamos acertar depressa a data do casamento. Se formos derrotados perderemos o Reino.
- Se é para o bem do Reino eu aceito. - Concordou Dilminha com alegria.
- Outra coisa, filhinha, caso vençamos a Grande Batalha, você assumirá a administração do Reino porque preciso me afastar por algum tempo.
- Que legal papai! Sempre tive vontade de governar! Vou consertar tudo que tá trapalhado e trapalhar tudo que tá consertado!
- Calma Dilma. Você não precisa fazer nada. Nosso Reino é um exemplo de paz e harmonia para todo o Planeta. Deixa tudo correr como está. - Orientou o Rei – Siga o exemplo de seu futuro marido, fica na sua!
E assim foi feito o casamento de interesses entre o Reino de Petelandia e o Reino dos Muros. Logo em seguida veio a Grande Batalha na qual os Bicudos foram derrotados com facilidade.
Nos quatro anos seguintes, a Princesa administrou o Reino e como menina inquieta que era começou a modificar as regras estabelecidas pelo Rei. Seu pai a orientava, mas ela não obedecia. Seu marido não elogiava nem condenava. Se limitava a passar o dia ora em cima do muro, ora se confabulando com seu generais e a noite ficava vendo TV acabo, assistindo um programa de variedades chamado Pigmento, com o apresentador Dápena.
Assim foi por quatro anos, até que o Reino de Petelandia teve que enfrentar novamente os Bicudos na segunda Grande Batalha.
Havia sido acertado previamente que Dom Luís Inácio IX iria ser desta vez o comandante dos exércitos e que se vencessem a batalha iria assumir a administração do Reino novamente. Mas, eis que para surpresa de todos, que Dilminha bateu os pezinhos e disse que iria ser novamente comandanta dos exércitos e continuaria administrando do Reino.
Quando foi anunciada a decisão, os generais caíram na gargalhada, mas tiveram que aceitar o fato, pelo bem de todos.
Desta vez venceram o inimigo com dificuldade.
Alguns meses depois, começou a surgir no Reino manifestações contra a princesa que havia se declarado rainha, porque sua falta de noção estava colocando em risco a Economia e a tranquilidade do Senhores Feudais, donos de grandes fortunas e influência. Dilminha começou a se sentir desconfortável e como era meio descontrolada começou a culpar todo mundo dizendo que havia um complô para derrubá-la. Devido a esses acontecimentos, seu hábito de falar coisas sem nexo foi se agravando e ela passou a ser motivo de piada em todo o Reino e nos reinos vizinhos. Quando ela apareceria na TV para dar entrevista ou fazer pronunciamentos, todos já ficavam esperando suas abobrinhas.
A reação cresceu de tal forma que acabou culminando com a destituição da “Rainha das Abobrinhas”, como passou a ser chamada e como era de lei, o príncipe Temer Hário assumiu o Governo.
A ex-rainha extremamente irritada, acusou o novo rei de golpista e o xingou de todos os palavrões que havia aprendido na vida com seu pai e disse que, com os generais e soldados que lhe permaneceram fiéis, iria promover intensa guerrilha contra seu ex-marido, além de processá-lo com base na Lei Maria da Penação por terrorismo doméstico.
Assim terminou um casamento de interesses, tido como infinitamente romântico no início e meio e tragicômico em seu fim.