NA FILA DA LOTÉRICA

Dois amigos conversavam animadamente sobre seus animais de estimação, enquanto esperavam o momento de serem atendidos no caixa. Outras pessoas presentes se mostravam atentos ao relato dos homens. Pra eles, uma distração que ajudava a amenizar a angustia da demora pelo atendimento.

Para os que estavam presentes desde o início da conversa, nada demais. Um papo trivial como outro qualquer. No entanto, entrou na fila uma senhora conservadora, muito conhecida na cidade por defender princípios morais e costumes mais tradicionais. Com a chegada desta senhora, a conversa tomou contornos mais interessantes. Os homens continuaram os comentários e um deles dizia:

- Ontem Rosinha deu o periquito.

- Fez isso por birra, né? Indagou o outro.

- Não. Acho que de gosto mesmo.

A senhora que havia chegado no meio da conversa e dentro do seu puritanismo, ia se avermelhando de vergonha.

- Mas ela deu pra alguém? Continuou perguntando um dos homens.

- Não sei. Acho que deu para o primeiro que encontrou. Sei apenas que ela se mostrava bastante satisfeita com o acontecido.

A senhora, estava indignada com as pessoas presentes no recinto, estas não demostravam nenhuma reação de repudio àquela conversa, que pra ela, era imoral. Enquanto isso a conversa entre os dois homens prosseguia.

- Acho que fez isso por eu não estar cuidando bem do bicho dela.

- Ah! Sendo assim, ela tinha motivos para sair oferecendo seu periquito pra qualquer um, respondeu o amigo colocando mais lenha na fogueira e dando risadas.

As pessoas presentes na lotérica pareciam se divertir com a situação, percebendo o constrangimento da senhora no final da fila. Ela olhava para os lados, mudava de posição, trocava de lado a bolsa que carregava. Uma sensação de não saber se era melhor ir embora ou cavar um buraco no chão e esconder-se. sentia-se sozinha e desamparada. E pra colocar mais pimenta, um deles continuou:

- Quem ganhou o presente, certamente deve estar super satisfeito. Um periquito novinho, que ainda não estava todo coberto com pelos. No que o outro confirmou:

- Verdade. Tinha umas partes ainda completamente pelado.

A senhora arregalava os olhos, a respiração ofegante e não se aguentando de tanta vergonha do que estava ouvindo, resolveu intervir na conversa, procurando amenizar o clima, e tentando desviar o sentindo do que estava sendo relatado, no seu entendimento, era obsceno. Com a voz empostada e em bom som, indagou;

- Era um periquito australiano, né? Perguntou ela do final da fila.

Os homens olharam para a senhora e entendendo o sentido da pergunta, mas querendo colocar um ponto final naquela conversa, um deles respondeu taxativo:

- Não. Periquito brasileiro mesmo!

Henrique Rodrigues Inhuma PI
Enviado por Henrique Rodrigues Inhuma PI em 19/08/2021
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