TROCANDO SEIS COM MEIA-DÚZIA 😊

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Na metade dos anos '70 do século passado, a sala de conferências da faculdade de Psicologia da USP de São Paulo estava lotada de professores e estudantes. O famoso Dr. Krauss, da Universidade alemã de Tubinga, ia dar uma palestra sobre uma forma extremamente rápida de ensinar os idiomas estrangeiros. Dirigindo-se à plateia, disse logo que, para aprender de forma dinâmica uma nova língua, não eram necessários os livros e as gramáticas, porque as crianças aprendem de forma natural sem necessidade de decorar regras e paradigmas.

Para dar crédito às suas afirmações, apresentou ao público um brasileiro idoso, pobre e pouco alfabetizado que ia ser o sujeito ideal para um importante experimento: demonstrar que, com a técnica Krauss, até um velho podia, se tratado igual uma criança, aprender qualquer idioma do mundo em poucas semanas. Esse ancião, cujo nome era José, ia ficar poucos meses sob o cuidado do professor que, com sua equipe, teria lhe ensinado o alemão.

- Voltem daqui a três meses e vou mostrar a vocês todos como esse miserável iletrado aprendeu perfeitamente o idioma de Goethe e de Kant.

Seguindo a risca o "Método Krauss" o voluntário José ficou hospedado no Instituto de Cultura da República Federal de Alemanha onde, foi absolutamente proibido de escutar ou pronunciar qualquer palavra de português, inclusive a música. Vestido igual uma criança, as assistentes o trataram como um bebé, alimentando-o com homogeneizados, dando brinquedos e usando com ele uma linguagem infantil. Objetivamente, José aprendeu os primeiros rudimentos do alemão e, após duas semanas, já entendia o essencial, respondendo às perguntas que lhe eram dirigidas.

Em seguida, de calças curtas e uniforme, foi tratado como um estudante do ensino fundamental, passando duma série para a sucessiva a cada dez dias de aprendizado. Moral da história, depois do tempo planejado o homem tinha condições não apenas de entender, mas também de ler, escrever e se expressar como um adolescente alemão de quinze anos. Orgulhoso pelo resultado obtido, o Dr. Krauss o apresentou novamente diante de uma plateia composta também por numerosos jornalistas.

Após ter resumido o programa, o especialista convidou os presentes (obviamente os que falavam alemão) a conversar com o Sr. José.

Começaram com perguntas simples que se tornaram progressivamente mais complexas, e o ancião respondia de forma correta, mostrando um domínio do idioma igual, se não superior, aquele que um jovem estrangeiro podia ter alcançado depois de vários anos de estudo intensivo. Terminado o teste, o público dirigiu uma standing ovation ao Dr. Krauss enquanto eram tiradas inúmeras fotografias pelos jornalistas dos cotidianos mais importantes do Brasil.

A conferência estava prestes a ser encerrada quando um humilde repórter, que não entendia o alemão, fez essa simples pergunta ao Sr. José:

- O senhor ficou satisfeito de ter aprendido um novo idioma tido como bastante complicado?

O idoso não respondeu nada.

- Queria saber se agora está contente, insistiu o jornalista.

Mais uma vez o homem permaneceu calado.

- Seu Zé, me entende quando falo?

Silêncio total.

A verdade veio logo à tona: o "Metódo Dr. Krauss" funcionava maravilhosamente, mas tinha o defeito que o aluno, na medida em que aprendia a nova língua, esquecia totalmente aquela materna.

Era como trocar seis com meia-dúzia.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 30/08/2021
Reeditado em 30/08/2021
Código do texto: T7331796
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