RECORDAR É… SÓ RIR!

RECORDAR É… SÓ RIR!

Carlos Roberto Martins de Souza

Ia muito à casa de minha vó Margarida, isto nos anos sessenta. A casa era humilde e sem banheiro, lá, para as necessidades, só uma casinha num girau, onde se equilibrar sobre os tornozelos era o primeiro desafio. Literalmente você tremia nas bases! Já no preparo para a aventura havia um clima de suspense, pois, no caso, você já era recebido com a porcada roncando e dando boas vindas, ou boas cagadas. Era olho no olho… Quando a coisa apertava, independente da hora, o único recurso era a privada, a popular casinha, pois até o penico era concorrido, e como era apenas um, a preferência era na suite da velha avó. Ainda hoje sinto arrepio só de pensar o quanto a vida era sofrida, não tinha facilidades, uma simples defecada era um grande desafio, na hora do aperto, era rezar para dar tudo certo. Um horror, o terror do cagão era ir à tal latrina, aquilo era uma sessão de descarrego, o demônio estava lá, com certeza. O clima de terror dentro daquelas quatro paredes era algo terrível. Imagina a galera toda embaixo, de olho na parte sua que não bate sol, esperando a mercadoria… um quadro digno de Picasso bêbado. A porta, além de uma cruz de madeira pregada, tinha suas frestas, na chuva, era cagar e molhar, pois havia goteiras por toda a parte, fechar prisão, era na base da tramela, a nobre fechadura, que nunca era confiável tocar na dita cuja, pois os resíduos estavam lá, as vezes fresquinhos, pois algum cagão errava a mira, e ao lambuzar o dedo, o lugar mais perto para limpar, era a bendita fechadura. Não dava prá meditar, agachado num desconforto surreal, tinha que vigiar. Além dos porcos, o odor atraia até cachorros, e aí, eles te vigiavam o tempo todo. Ficar prostrado naquele buraco, sobre aquele piso lambuzado, aquele perfume exalando, moscas, baratas, era um enorme desafio, sem contar que, dependendo do tamanho da coisa descartada, quando batia naquela meleca lá em baixo, espirrava, voltava na poupança, e aí, era lambança na certa. Sem contar a tal diarréia, que era uma grande aflição, um suplício… sem saudades... caia mercadoria para todos os lados, menos no buraco. De longe longe você ouvia a pessoa rezando, e suado frio, e lembrando da frase que a diarréia falo para o peido: "Vai na frente, pois eu estou sem freio". Quando os trovões ecoavam, era prenúncio de que o sujeito sairia de seu suplício com aquela cara de cagão arrependido. E não sei a razão, mas a morcegada tirava rasante no porta-malas, na vulgar bunda, a cada sobrevôo, era uma trancada, nem sinal de Wi-fi passava… Para arrematar a maldita obra, só havia o danado do sabugo, amigo inseparável do frequentador do local. Ele ficava no balaio, bem no cantinho, aguardando a sua chance de mostrar serviço, era implacável, limpava, penteava, massageava e coçava. Era aquele charuto peludo, uma limpeza ECOLÓGICA correta. E era de graça! Uma desgraça! Era fechar o olho e torcer. Se um não dava conta, a coisa poderia complicar, pois às vezes, ele era a sua única chance, não tinha este negócio de oportunidade perdida, era torcer para ser pouca sujeira. A vantagem é que, ao contrário do papel higiênico, você poderia usar mais vezes, apenas girando a peça. Sem falar que, por falta de prática, muitas vezes ele escorregava da mão, era buraco na certa. Vi muita cueca sendo disputada pelos bichos, pois depois de ajudar no arremate da tarefa, só restava lançar o milho aos porcos, ou a cueca… Naquele furo quase sempre tinha um pato, ou uma galinha fazendo coro com os porcos lá embaixo, muitas vezes o tal bicho ia buscar na fonte seu alimento, e aí, era aquela bicada ingrata. Isto sem contar, que quando um porco ficava nervoso por você demorar na entrega do produto, ele chacoalhava as orelhas e era aquela confusão. Voava respingos da tal encomenda nas bandas, era um desespero. Era um merdeiro só. O pato, de olho na saída da refeição, quando errava o furo e via aquela minhoca morta pendurada, compondo o conjunto da obra, era bicada na certa. E ai, era sair carregando as calças presas às pernas, num salve-se quem puder. Não muito raro, sobrava caroços de milho no sabugo, aí era um Deus nos acuda, saia arranhando tudo, era uma sensação horrível aquela lixa roçando a nobre área. Tinha aqueles que eram alérgicos, limpavam, mas passava o dia inteiro com a hemorroida ardendo, naquele ritmo de feofó de galinha depois de botar. E o que dizer da tia Ofésia? Ó fezes!!! Ó merda!!! Era uma ricaça, ver a mãe era coisa rara, e nem levava malas. Um belo domingo, num frio terrível, ela sentiu um reboliço no bucho, se viu na emergência, precisou recorrer ao cubículo da tortura, desconcertada, ela saiu de fininho, sem se deixar ser percebida na sua aventura. Mas como a vida prega peças, principalmente nos arrogantes, pimba!!! Foi o dia da onça beber água! Da bonitona ter seu dia de glória! De longe eu fiquei espiando aquela princesa rumo ao calvário, valeu! Ele fez até o sinal da cruz! Na hora do obrar, por falta de experiência, ela desequilibrou no salto Luiz XV, meteu o pé no buraco… atolou na merda, foi hilário, acho que até a bicharada rolou de rir com a cena. Nem precisa dizer, nunca mais ela voltou lá. Gastou uma lata de Creolina, um vidro de desodorante Avon, e uma latinha de Pomada Minancora. A velha morreu anos depois, mas falar sobre o ocorrido, era criar confusão. Em dia de festa na casa da avó, a coisa se complicava, nem sempre havia estoque suficiente de sabugo, e aí a cueca pagava o pato, fazia o serviço. O sabugo tinha um problema, quando a safra de milho terminava, a coisa ficava complicada. Alguns guardavam suas reservas, mas em muitos casos, os usados eram lavados, secos, e voltavam para o serviço de limpeza. Não tinha torneira, se acontecesse um deslize de mão, um acidente no manuseio do instrumento de assepsia, dava vontade cortar mão e jogar na fossa, era indescritível ver o pobre coitado saindo da casinha tentando limpar o dedo na folha da taioba, que depois seria alimento na mesa. À noite, cagar, era só em emergência, tinha morcegos disputando a banda da bunda, aranhas bordando, sapo, perereca, e sabe-se lá, cobras. Sem contar que nas noites, ratos eram confundidos com ratos, de tão grandes. De vez em quando um subia pelas pernas, e aí a casada era de fato, uma dura cagada. Era trancar e rezar para o dia amanhecer logo, você passava a noite com o cofre lacrado, até o segredo você esquecia, pois se abrisse... Hoje, quando entro no meu banheiro, sento no trono, e o é, se comparado com a minha infância, veja como a vida era dura, como tínhamos que nos virar nos trinta, nos sessenta, só para seguir em frente. Sou grato a Deus, pois, com todos os percalços e aventuras, cheguei até aqui sem traumas e sem nenhum sentimento de frustração, pois creio que tudo tem um propósito diante de Deus. Minhas aventuras foram muitas, nenhuma em vão, com todas aprendi grandes lições para vencer na vida.

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 16/09/2021
Código do texto: T7343826
Classificação de conteúdo: seguro