EM BUSCA DO JABUTI

Há dias, semanas, para ser mais exato, estou tentando escrever um texto longo. Tenho ouvido vários podcasts sobre escrita criativa, sobre como encontrar sua voz narrativa, como escrever um livro, etc. Dizem para ter um planejamento, antes de sentar-se à mesa... ou talvez nenhum, pois isto poderia engessar sua escrita. Dizem ainda para anotar as ideias em pequenos bilhetes, de forma a não se perder nenhuma. E assim o fazer a qualquer momento em que vierem a surgir. Desde então, não tenho dormido muito, sempre a saltar da cama quando algo me vem à mente, mas acabo dormindo sentado, antes de meu velho notebook resolver me mostrar sua tela encardida.

Em determinados momentos me canso, desisto, e tento assistir a um filme inspirador. Já me aventurei pelo terror e pelo humor. Estranho, mas acredito serem complementares, sem radicalismos pastelões de um ou outro gênero. Meio assim, tipo Família Addams, sabe? Daí então, passo vários minutos a escolher, correndo velozmente as inúmeras opções pela tela. Novamente, acabo cochilando.

Dizem que música e literatura se complementam. Me ponho então a organizar playlists inspiradoras. Agora mesmo escuto Prokofiev: Romeo and Juliet, e percebo que sua introdução está mais para o macabro, em detrimento do romântico. Pensando bem, a história é bem trágica mesmo. Minha esposa acha que estou ficando maluco, com meus rompantes de só escutar um gênero por vários dias: suspense e bruxaria, música indígena, ficção cósmica, mistério. A diarista não quer mais vir. Disse que aqui não tem sertanejo.

Já que nada frutifica em inspiração literária, resolvo andar na esteira, a fim de aplacar a dor nas costas, a qual me impede de produzir algo decente. Engraçado, antes gostava de assistir séries com legendas em inglês, me divertia mesmo. Porém, depois de me enveredar por essa ideia de me tornar um escritor, não me divirto mais. Fico pensando no fato de alguém ter criado uma história... e eu, nada! O que aqueles autores tem que eu não possa ter? A inveja é uma m.

Um bom vinho tinto pode ajudar. Já ouvi a frase “livra-te do mau vinho e do mau vizinho”. Penso que a primeira parte da assertiva seja mais simples, mas novamente me arrependo de mais uma vez ter economizado na hora da compra. Está mais para vinagre, sem contar que o tira gosto está vencido. Não levei o óculos de leitura ao supermercado. E o vizinho ainda acha que é cantor ou instrumentista...

Será que todo escritor é assim? Quantos momentos de angústia e inquietação antes de produzir algo que preste? A criação é companheira da ansiedade? Ou será que a caneta de Machado de Assis fluía como o violão do Toquinho? Sério, Toquinho deve ter nascido agarrado ao instrumento, de tão natural o manuseio. Aliás, já tentei ser músico, mas me embananava se um mosquito pousasse por sobre a cifra. Melhor não.

Bom, o segredo é criar um personagem forte. Um daqueles a se tornar maior que o criador. E desenvolver enredos secundários, em torno da ideia central. Se florear é novela. Indo direto ao ponto é conto.

Eu consigo. É simples. Vocês tem alguma outra sugestão? Um dia ainda ganho o Jabuti. Espero...