Um intruso no meu apartamento - parte II

Ontem, às 5h da manhã, estávamos (eu e meu esposo) acordados limpando a cozinha.

Bem que eu queria, mas não era uma faxina pós morte do meu visitante.

Bem que eu queria, mas não estou inventando ou alucinando.

Depois do dia em que o vi como um raio (do meu fogão para a máquina de lavar roupas), percebo sua presença silenciosa e invisível pelos restos de comida, veneno (não ingerido, obviamente) e dejetos deixados embaixo dos eletrodomésticos e soltos na cozinha e sala.

Dessa forma, estávamos limpando todos esses "presentes", enquanto nossos filhos (e boa parte de Teresina) dormiam.

Alguns comportamentos já estão se tornando rotineiros: acordar, ir à cozinha e olhar em direção das armadilhas e vedar as portas do apartamento com fitas adesivas, são exemplos.

Por conta do meu hóspede, tenho tido prejuízos pessoais, profissionais e financeiros. Há alguns dias não vou à academia (com receio de ser recepcionada pelo indivíduo, no meu retorno, enquanto meu esposo coloca os meninos para dormir), não tenho trabalhado em meus planejamentos e atendimentos porque não quero ficar até tarde no escritório. Estou causando transtornos a terceiros, pedindo meus cunhados para que venham procurá-lo (sem sucesso, claro). Contabilizo, até agora, dois rolos de fitas adesivas, várias ratoeiras e prejuízos futuros, porque sabe-se lá o que ele está fazendo na fiação dos meus eletrodomésticos (minha máquina de lavar roupas...).

Mesmo assim, ainda tive um lampejo de esperança quando ontem, no meu intervalo de almoço, encontrei o papel cola-rato.

Como o próprio nome diz, é um papel besuntado de um grude extremamente pegajoso que não deixa escapar quaisquer ágeis patinhas. Não foi necessário muita propaganda, uma amiga sugeriu, procurei, achei e... comprei três! Agarrei-me a essa promessa e passei o resto da tarde com aquela sensação de felicidade interior.

Seguindo religiosamente as orientações do vendedor, abri o papel e coloquei no seu centro um pedaço de sardinha ("a isca infalível"). Para garantir, montei as outras ratoeiras com iscas de pão integral. Fui dormir.

Hoje, o papel cola-rato (a sardinha) e a ratoeira de gaiola intactos. A ratoeira quebra-pescoço sem o pão. Intrigante! Desapareceu o pão da ratoeira mais perigosa e eu havia graduado, testado para ficar mais sensível! Não me abstive de imaginar rato levitando, reproduzindo a famosa posição do Tom Cruise em "Missão Impossível" ou, ainda, chicoteando o pedaço de pão com rabo.

Sem muitas alternativas, e, confesso, sem esperanças, vedei as portas dos quartos, desarmei as ratoeiras, coloquei o papel colante com pão integral embaixo da máquina de lavar roupas e fui trabalhar.

Aprendi muito nesses dias sobre ratos, especialmente sobre esta minha cria.

Em primeiro lugar, já sei que ele prefere pão integral ao tradicional, gosta de presuntos, melancia e queijos. Mas não tolera sardinha e veneno. Como não bebo refrigerantes, não sei se ele gosta, mas posso testar café.

Para futuro, idealizo aprofundar meus aprendizados filosóficos-biológicos para refutar a tese da racionalidade como característica que diferencia o homens dos animais. Vou revolucionar e abalar as bancas científicas. Se não nos cuidarmos, os ratos dominarão o mundo!

Cansado de procurar, meu marido me propôs dedetizarmos o apartamento e irmos passar uns dias na casa da minha mãe. Detesto mudanças bruscas de rotina, mas já estou cogitando.

Ah, se aparecesse uma dona baratinha aqui em casa... quem sabe? Eu garanto que faria (com gosto) um panelão de feijão!!

Luciana Luz
Enviado por Luciana Luz em 23/11/2021
Reeditado em 23/11/2021
Código do texto: T7392278
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