DEU ERRADO...! — Um desconto de Natal

Aconteceu numa época em que cartão de crédito ainda era passado numa pranchinha de papel carbono.

Um comerciante ficou conhecido então pelo apelido “Zé Carbono”, pois era dono de duas lojas que na região detinham a maior clientela dos negócios a crédito (o chamado “crediário”).

Mas ninguém sabia que todo sucesso do Zé Carbono era devido ao talento para gerenciamento em vendas desempenhado nos bastidores por sua mulher, a qual não abriu mão do nome de solteira: Lucrécia Bonuzalto Mercado (que ela achou ser um fator que dava sorte nos negócios).

Porém, um não-tão-belo dia, o Zé Carbono engraçou-se para o lado de uma mulher mais jovem com 23 anos de diferença para a idade dele. Na verdade, a moça ainda havia mal completado 18 primaveras.

Foi então que “deu na telha” do Zé a ideia de separação judicial, o chamado divórcio.

Deu errado.

O juiz até que deu a separação, mas, na sentença, deu a propriedade da loja maior para a Lucrécia e determinou que o Zé abriria mão do casarão onde o casal havia morado.

O Zé Carbono deu como certo que bastariam uns dois meses para a nova (e novíssima) companheira aprender a lidar com os negócios, até que ele voltasse a ter muitos lucros porque achava que o grande negociante era ele.

Sim, ele deu isso como certo. Deu errado.

A moça não sabia calcular... e nem mesmo dominava as quatro operações básicas. E até quando foi fechar pequenas vendas, para dar troco... deu errado.

O Zé Carbono percebeu essa referida dificuldade e resolveu dar tempo ao tempo.

Deu errado.

A moça parecia estar trabalhando para a concorrência, mas o Zé Carbono deu isso como uma bobagem e deu o benefício da dúvida, atribuindo isso a uma fase ruim dos negócios na região.

Deu errado.

A outra loja, que havia ficado para a Lucrécia Bonuzalto Mercado, só crescia em lucros e em clientela. Mas, é claro que o Zé deu isso como uma falta de habilidade na propaganda da loja dele.

Deu errado.

Não adiantou a publicidade feita com um carro de som alardeando as promoções da loja do Zé, com o autofalante pipocando os tímpanos nos bairros vizinhos. Para falar a verdade, aquilo deu problema de multa por incômodo aos ouvidos dos fiéis que frequentavam as várias igrejinhas daquela pequena cidade.

Zé Carbono então escutou quando a namorada pediu para ajudar na publicidade da loja, dispondo-se ela a ficar em frente do estabelecimento (na calçada) e vestida apenas com blusinha e shorts apertados e fazendo aquilo que de melhor ela sabia fazer: dançar, rebolando ao som de um ritmo conhecido como “suingueira” com finalidade de atrair a clientela para as promoções de peças curtinhas de roupas da moda-praia feminina. A moça nem precisou falar muito e logo o Zé Carbono deixou os ciúmes de lado, e imediatamente deu crédito à ideia.

Deu errado.

Bastou o primeiro turno do dia passar, chegando a hora do almoço, para o Zé resolver que aquilo não havia surtido o efeito desejado e desligar o som. Fez isso, mas não viu a moça entrar quando o som parou de ecoar na calçada. Foi olhar e logo soube que outra vez... deu errado.

A moça não havia atraído clientes, mas tinha chamado a atenção de um antigo namorado da mesma faixa de idade... que passou por ali pilotando sua motocicleta nova. Foi aí que a dondoca do Zé... deu no pé, digo, deu o fora, montada na garupa da máquina do seu verdadeiro amor.

:::::::::::

Não se preocupem com o destino do Zé Carbono.

No período natalino daquele mesmo ano ele foi visto trajado de Papai Noel sentado em um grande sofá em frente a uma das lojas de Lucrécia Bonuzalto Mercado, a quem ele tinha vendido também o seu encolhido estabelecimento que faliu. Mas, é claro, infelizmente... até nisso... o Zé...

...Deu errado!