Mensagem do Barnabé Varejeira - Educando os filhos.

Ba tarde, Cérjim. Tá calor pa dedéu hoje, tá não?! Vai caí um pé-d'água antes do pôr-do-sór. Calor ansim é pernúncio de pancada de chuva, dilúvio pa o Noé morrê de inveja. Armocei há pôco um bom prato de arroz, feijão, carne de vaca, verdura pa dá e vendê, e um litro de laranjada. Eu tô, aqui, pensano cos meus botão, conversano comigo mermo o que se dá co mundo hoje em dia e pruque a garotada tá tão desmiolada, tão desparafusada; parece, inté, que só tem cabeça pa juntá pioiô; parece que a bússola da garotada tá quebrada. Tá difirci, muinto difirci, entendê o que se assucede com os jóve. Eu, que fui educado pelo meu pai e pela mia mãe à moda antiga à moda antiga educo meus fio. Não tem conversa; é do jeito que tem de sê, e pronto. E ponto finar. Sem lero-lero, sem bla-bla-bla, sem conversa fiada. É do jeito que tem de sê. Meus fio educo-os eu, eu e mia muié, craro. O fio reinô, uma espada-de-são-jorge, ou uma varinha-de-marmelo, ensina pa ele quem manda na casa, e quem manda não é ele. E tem de sê ansim. Muintos pai e muintas mãe não têm voz firme, e abaixa a cabeça pos fio. Vê se pode! Hoje, antes do armoço, vi, no banco, um menino de uns sete, oito, ano, debochá da mãe; ela chamava ele, e ele punha a língua pa fora da boca, e mostrava a língua pa ela, e ela, em vez de dá nele, no pé-do-ouvido, um tapa pa virá ele do avesso, ficô falano: "Meu fiinho, obedeça a mamãe, obedeça, o cê é um fiinho bonito." Ah! Se fosse ca mia muié! Ela mandava um tapa nas fuça do moleque, tapa que o viraria do avesso, e fazia ele dá dez vorta em si mermo, antes de pará, e ele ficaria mais tonto que barata tonta. Seria um tapa pa ele nunca mais esquece, nunca mais. Co meus fio é ansim, eu mando, eles obedece; e se eles não obedece, o reio canta-lhes no lombo até tirá, deles, sangue. Não tem conversa. Eu digo o que pode e o que não pode; o que eu digo que pode pode e o que eu digo que não pode não pode, e fim de papo. E comigo sim é sim e não é não. Meu fio, quarqué um deles, faz uma reinação, me farta co respeito, e eu pégo ele de jeito, e nele descarrégo a mia autoridade: "Óia, aqui, ô fio do meu sangue. Se eu mando tá mandado; se eu não mando não tá mandado; se eu digo que não pode não pode; se pode eu digo que pode. Sê entende!? É simpres. Quando eu digo sim quero dizer sim; se quero dizer não digo não; se sim fosse não e não sim, então não não seria não e sim não seria sim. Sim é sim se não é não e não é não se não é sim. Tem de havê distinção entre sim e não de modo que não se confunda não com sim e sim com não. Prestenção! E não vô repeti a órde." É ansim que falo cos meu fio; dexo mias idéia bem craro pa eles pa que eles não fique no escuro. Ansim meu avô educô meu pai e meus tio, e ansim meu pai educô eu e meus irmão, e ansim eu educo meus fio, e ansim meus fio vão educá os fio deles. Se não fôr ansim, a famia desanda. E ba tarde, Cérjim; não vô mais aporrinhá sua cabeça cos meu pensamento. E que Deus Nosso Senhor te proteja. Inté.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 09/07/2022
Código do texto: T7555874
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